Cambada de leprosos, estão a cair aos pedaços.
As vossas entranhas, a vossa carne,
o sangue que é vosso e dos vossos,
gorduroso, pastoso, preguiçoso e lânguido.
Apodrecem e não morrem.
Tão vazia é vossa alma,
que nem vale a pena devolve-la ao mundo.
Dão logo esse corpo, reles e molengo,
e dão-lo a consumir, por entre vós,
pela peste, pela lepra,
pelos vermes que rastejam na vossa existência,
e pelos demais que vos querem comer.
Canibais moribundos e necrófagos imundos,
Assim é a vida e assim viveis.
Ide em paz.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
A musa é a arte que inspira à criação da arte. Sem ela, não há arte nem criador. A musa necessita de ser criada, concebida, ou pelo menos admirada. A musa é o puro abstracto que apenas se concretiza no sujeito, é a beleza, para a obra bela de um criador inspirado, é o ódio para aquele que odeia, é a dor para o que sofre. Para haver arte, há que haver sentimento. Quando este fluxo for interrompido, quer por falta de musa ou falta de arte, a humanidade estagnará, pois ficará preenchida de tédio e vazio.
Deixa que te admire, deixa que te sinta, deixa-me viver e ser humano enquanto possa. Deixa que te crie tudo e nunca te deixe ver, deixa que eu sofra, deixa que eu deseje, e nada mais.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Estou nu, despojado de tudo.
Tiraram-me os bens e as inutilidades
Os amigos, a família, esses outros.
Amor, ódios, culpa, ressentimentos
e todos os demais pensamentos
já não os conheço.
Aos sonhos e aos desejos,
deixo-os com o sentimento,
de que em algum momento,
tenham sido mais que isso.
Agora vou renascer,
viver de novo,
e acordar com esta panca
de que quero outra vida.
Tiraram-me os bens e as inutilidades
Os amigos, a família, esses outros.
Amor, ódios, culpa, ressentimentos
e todos os demais pensamentos
já não os conheço.
Aos sonhos e aos desejos,
deixo-os com o sentimento,
de que em algum momento,
tenham sido mais que isso.
Agora vou renascer,
viver de novo,
e acordar com esta panca
de que quero outra vida.
Ciclo da vida
A vitela comia erva. E engolia, e mastigava, e ruminava, e voltava a mastigar, a ruminar. E assim se fazia a sua vida. Até que um dia chegou lá um belo dum gafanhoto e disse: "Ah, e tal, eu e mais uns quantos amigos vamos-te comer a erva toda." E ela "Ah, tá bem". E eles vieram, e com eles trouxeram a peste, a fome, algumas hemorróidas, e uma comichão na orelha do Sr. Jaquim, que afinal de contas era só um piolho afogado em sarro. E assim, as vacas ficaram sem erva, os homens ficaram sem leite, e os chineses continuaram a ser mais que as mães. Com tamanha tragédia, a vitela foi pastar para outro lado, onde conheceu um ganda boi. Apaixonaram-se e ela ficou prenha. (Isto com bicharada costuma ser bastante imediato.) Um dia, ia o boi a voltar a casa depois de um dia stressante de trabalho e conforme ia a atravessar para ter com a sua amada veio um camião. Ela bem gritou "Oh boi, sai da estrada!" mas em vão. Despedaçado o coração da vitela (agora vaca), fizeram-se iscas.
Bem boas que estavam.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Egeiro
Ele acordou, era mais um dia, igual a tantos outros. Espreguiçou-se mecanicamente num bocejo preguiçoso. Levantou-se, ainda a coçar a virilha, e abriu as cortinas. Estava um dia cinzento, chuvoso, carrancudo. Cumpriu todos os ritos matinais, e fez-se a mais um dia de ócio. Ele era mais um daqueles estorvos sociais: não trabalhava, vivia da herança duma tia rica, era, em suma, um parasita.
Mas esta manhã fora estranha, ou pelo menos, assim lhe parecera. O cão do vizinho não lhe ladrara nem correra atrás dele. Aliás, nem notara a sua presença, ficara de orelhas hirtas a escutar o vento. A pastelaria onde ia comer a sua tão adorada bola de berlim, estava fechada, com um daqueles letreiros de volto já que duram para a manhã toda. No entanto, lá teve de se resignar e seguir com as inutilidades da sua rotina. Sentou-se no seu banquinho de jardim, e pôs-se a mirar as árvores, as mesmas árvores de sempre sob o mesmo céu de sempre, no mesmo jardim de sempre, a sua vida tinha sido aquilo.
Conforme percorria as ruas daquela cidade, uma cidade cinzenta, suja, apinhada de gente sem vontade nem destino, apercebia-se do quão acomodado estava e do vazio que aquelas multidões lhe provocavam. Quanto mais deambulava, mais se apercebia de que era apenas mais um, uma coisa corriqueira sem identidade que fazia número e nada mais. Via nas pessoas os olhares distantes, perdidos em devaneios e sonhos de uma vida não vivida. Via a indiferença com que a gente se dava, os falsos afectos, os sorrisos cínicos. E nessa maré de gente, via-se a si: só, desorientado, angustiado sem saber bem de quê ou de quem era a culpa. Não encontrava ponta de significado ou sentido no meio daquilo tudo. A vida daquelas gentes, para ele, não se assemelhava a nada mais do que cotão, um aglomerado de lixos e futilidades emaranhadas que andavam ao sabor do vento.
Pelo caminho desse seu passeio matinal (que já pouco matinal era, o sol ia alto e as cozinhas dos restaurantes já fervilhavam de cheiros e fumos) parou na Igreja. Não que ele fosse muito crente, mas achava o monumento bonito e o fascínio pela arquitectura prendia-o sempre naquele local. Especou-se ali, e maravilhou-se: com a estética, com o trabalho, e com a fé que motivara tudo o mais. Desejara acreditar, desejara ser um cordeiro que seguisse o rebanho inocentemente até ser abatido pelo seu pastor.
Um forte odor de carne a grelhar invadiu-o e fê-lo salivar e evadir-se de todo aquele remoer ruminante de dissertações. Um nó torceu-lhe o estômago e, pouco relutantemente, lá sucumbiu aos prazeres alimentícios. Espetaram-lhe um bife essanguetado na frente e ele devorou-o, qual besta faminta e primitiva. O sabor ferroso do sangue do bovino anónimo ficara-lhe no paladar pela tarde fora.
Fez-se tarde, voltou para casa cheio de vazio. Olhou para a cama. Os lençóis estavam manchados de sangue. Neles, jazia o seu corpo, morto, inanimado e com uma bala cravada nos miolos.
Despertara, o dia voltara a ser o mesmo.
Mas esta manhã fora estranha, ou pelo menos, assim lhe parecera. O cão do vizinho não lhe ladrara nem correra atrás dele. Aliás, nem notara a sua presença, ficara de orelhas hirtas a escutar o vento. A pastelaria onde ia comer a sua tão adorada bola de berlim, estava fechada, com um daqueles letreiros de volto já que duram para a manhã toda. No entanto, lá teve de se resignar e seguir com as inutilidades da sua rotina. Sentou-se no seu banquinho de jardim, e pôs-se a mirar as árvores, as mesmas árvores de sempre sob o mesmo céu de sempre, no mesmo jardim de sempre, a sua vida tinha sido aquilo.
Conforme percorria as ruas daquela cidade, uma cidade cinzenta, suja, apinhada de gente sem vontade nem destino, apercebia-se do quão acomodado estava e do vazio que aquelas multidões lhe provocavam. Quanto mais deambulava, mais se apercebia de que era apenas mais um, uma coisa corriqueira sem identidade que fazia número e nada mais. Via nas pessoas os olhares distantes, perdidos em devaneios e sonhos de uma vida não vivida. Via a indiferença com que a gente se dava, os falsos afectos, os sorrisos cínicos. E nessa maré de gente, via-se a si: só, desorientado, angustiado sem saber bem de quê ou de quem era a culpa. Não encontrava ponta de significado ou sentido no meio daquilo tudo. A vida daquelas gentes, para ele, não se assemelhava a nada mais do que cotão, um aglomerado de lixos e futilidades emaranhadas que andavam ao sabor do vento.
Pelo caminho desse seu passeio matinal (que já pouco matinal era, o sol ia alto e as cozinhas dos restaurantes já fervilhavam de cheiros e fumos) parou na Igreja. Não que ele fosse muito crente, mas achava o monumento bonito e o fascínio pela arquitectura prendia-o sempre naquele local. Especou-se ali, e maravilhou-se: com a estética, com o trabalho, e com a fé que motivara tudo o mais. Desejara acreditar, desejara ser um cordeiro que seguisse o rebanho inocentemente até ser abatido pelo seu pastor.
Um forte odor de carne a grelhar invadiu-o e fê-lo salivar e evadir-se de todo aquele remoer ruminante de dissertações. Um nó torceu-lhe o estômago e, pouco relutantemente, lá sucumbiu aos prazeres alimentícios. Espetaram-lhe um bife essanguetado na frente e ele devorou-o, qual besta faminta e primitiva. O sabor ferroso do sangue do bovino anónimo ficara-lhe no paladar pela tarde fora.
Fez-se tarde, voltou para casa cheio de vazio. Olhou para a cama. Os lençóis estavam manchados de sangue. Neles, jazia o seu corpo, morto, inanimado e com uma bala cravada nos miolos.
Despertara, o dia voltara a ser o mesmo.
domingo, 29 de novembro de 2009
Dissertações/ Dissecações - IV
O peso da consciência,
é o da cabeça oca
sobre a mão aborrecida.
A inquietude
é o formigueiro.
é o da cabeça oca
sobre a mão aborrecida.
A inquietude
é o formigueiro.
intemporalidades
Vou morrer anteontem,
porque vivo a desejar o ontem
enquanto nasço para amanhã
sem saber o que amanhã é.
porque vivo a desejar o ontem
enquanto nasço para amanhã
sem saber o que amanhã é.
Dissertações/ Dissecações - III
Queria parar o tempo para me separar dele.
As ansiedades e memórias iam-se.
Eu e tu também...
yay...
As ansiedades e memórias iam-se.
Eu e tu também...
yay...
Silogismo.
A luz projecta sombras.
Sombras são escuridão.
Logo, a luz projecta a escuridão.
"Não há mal sem bem"
Sombras são escuridão.
Logo, a luz projecta a escuridão.
"Não há mal sem bem"
Dissertações/ Dissecações - I
Não fazer sentido não é possível pois há que perceber que não faz sentido.
E eis que o berbequim morreu a furar a parede de diamante.
Parem de me invadir, todos!
Não quero ideias, não quero palavras,
(sou um hipócrita por usar ambas mesmo agora...)
não quero nada nem ninguém.
Quero ser sem os outros.
Quero sentir a genuinidade do ser humano,
longe das violações do meu intelecto e do meu ser.
Quero atirar a máscara para o chão e estilhaçá-la,
Ver todos os seus pedaços a espalharem-se pelo chão caoticamente...
Mostrar-me: podre, nojento, feliz e impenetrável.
Chocar e apaziguar.
Quero estar exposto, nu e frágil,
para que deixem de me violar.
Não quero ideias, não quero palavras,
(sou um hipócrita por usar ambas mesmo agora...)
não quero nada nem ninguém.
Quero ser sem os outros.
Quero sentir a genuinidade do ser humano,
longe das violações do meu intelecto e do meu ser.
Quero atirar a máscara para o chão e estilhaçá-la,
Ver todos os seus pedaços a espalharem-se pelo chão caoticamente...
Mostrar-me: podre, nojento, feliz e impenetrável.
Chocar e apaziguar.
Quero estar exposto, nu e frágil,
para que deixem de me violar.
Tempo
À espiral do tempo,
não se lhe avista o fim.
não estica nem encolhe,
não torce nem roda,
apenas fluí.
O presente cai no abismo,
e o passado, já está caído
e esquecido
no mais ínfimo ponto
que tão pouco se diferencia
de coisa nenhuma.
Acorrentado e arrastado,
lá há de ir o futuro,
que quando for presente,
se há de erguer e andar.
E quando for passado,
que tão bem se deixa levar,
escorrerá lá para o furo,
que não se vê mas se sente,
o do vazio absoluto
e do nada supremo.
Morre, corre, escorre,
esguio foge e guia
o nada, para a vida.
Renasce das cinzas.
Da entropia do vórtice,
para a calma do plano,
espaço e tempo explodem,
matando, ceifando, engolindo,
a espiral, o nada, o abismo.
Eternidade, porque esperas?
não se lhe avista o fim.
não estica nem encolhe,
não torce nem roda,
apenas fluí.
O presente cai no abismo,
e o passado, já está caído
e esquecido
no mais ínfimo ponto
que tão pouco se diferencia
de coisa nenhuma.
Acorrentado e arrastado,
lá há de ir o futuro,
que quando for presente,
se há de erguer e andar.
E quando for passado,
que tão bem se deixa levar,
escorrerá lá para o furo,
que não se vê mas se sente,
o do vazio absoluto
e do nada supremo.
Morre, corre, escorre,
esguio foge e guia
o nada, para a vida.
Renasce das cinzas.
Da entropia do vórtice,
para a calma do plano,
espaço e tempo explodem,
matando, ceifando, engolindo,
a espiral, o nada, o abismo.
Eternidade, porque esperas?
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Uma luz no escuro (Preto & Branco)
Ora, decidi aventurar-me na fotografia.
"Morning, oh dreadful dawn, spread your pale dim light" - Dissection - Retribution, Storm of the lights bane
(A primeira foi no palácio do Buçaco e a segunda em Gent, na Bélgica)
Este post enquadra-se no desafio Preto & Branco da Fábrica de Letras
"Morning, oh dreadful dawn, spread your pale dim light" - Dissection - Retribution, Storm of the lights bane
(A primeira foi no palácio do Buçaco e a segunda em Gent, na Bélgica)
Este post enquadra-se no desafio Preto & Branco da Fábrica de Letras
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Asdrubal, o da Enxada.
O Asdrúbal era um bicho. Mais concretamente, um homem, que vivia na aldeia de Enxada-àbaixo. O Asdrúbal era carpinteiro, ferreiro e carroceiro. Curiosamente, as carroças são feitas de madeira e ferro. No entanto, dado o seu estrabismo, todas as carroças do Asdrúbal tinham rodas ovais. Precisava também, obviamente, da burra da sogra, que lhe dava a loja para guardar a carroça, e da mula da tia Gestrudes, que tinha dois potros que puxavam a carroça.
O Asdrúbal vivia numa moradia e era um bom pai de família, com 7 catraios e catraias, bigode, e barriga de tinto. (Desculpem a redondância, a da barriga isto é.) Tinha uma mulher, a Arlinda, que era boa cozinheira, lavadeira, e parideira, e pouco mais dela o Asdrúbal sabia, porque também pouco mais lhe interessava.
Ao lado d'Enxada-àbaixo, ficava Enxada-àcima, e ,chegado Agosto, era altura da romaria anual nas duas Enxadas. Ora, como em quaisquer aldeias vizinhas que se prezem, os Enxadenses de baixo não gostavam dos Enxadenses de cima, e vice-versa. Acontece que a Arlinda, mulher do Asdrúbal, era de Enxada-àcima, mas isso não fazia diferença nenhuma, pois sendo a sogra do Asdrúbal de Enxada-àcima, mais um motivo para não gostar. De há um tempo para cá, a noite do arraial nas duas aldeias (que, por tradição e adoração ao mesmo santo, era no mesmo dia.) consistia não em ver quem tinha o melhor fogo, mas quem sabotava mais e melhor. Ora o Asdrúbal era o maior da sua aldeia, e portanto, ficou encarregue ele de toda a sabotagem.
Aconteceu que, nessa dita noite, o catraio mais velho do Asdrúbal, o Zé, fazia os seus 18 anos, pelo que o Asdrúbal foi pagar uns copos à mocidade, e a ele mesmo.
Mas, bêbado ou não, o Asdrúbal e os seus compinchas eram homens de palavra e lá foram ao dever, na sua carroça, aos solavancos, que ritmadamente acompanhavam os soluços do tinto da tasca do tio António. Desmontaram o que ia ser o arraial de Enxada-àcima e empacotaram tudo para a carroça do Asdrúbal. Pela estrada, à volta, encontraram também a malta d'Enxada-àcima com o arraial dos rivais.
Saltou tudo das carroças e resolveram o problema da melhor maneira que sabiam: à porrada. Felizmente, tanto uns como os outros estavam bebidos e em vez de ser enxada acima, enxada abaixo, enxada na cabeça, enxada nos rins, nem se acertavam e pareciam estar a fazer uma dança qualquer ridícula de capoeira (simplesmente pareciam galinhas). Acidentalmente, começou tudo a acender o fogo-de-artifício, e, numa clareira no meio do mato, lá se fez o arraial.
Foi o mais bonito de que as gentes das duas aldeias se lembram, e, com o coração mole e tocado daquilo tudo, ou simplesmente com a bebedeira, acabaram as duas aldeias por fazer o bailarico junto confraternizando e rindo como irmãos (ou irmões).
No dia seguinte andaram à batatada, cebolada, nabiçada, etc. Tudo voltara ao normal.
O Asdrúbal vivia numa moradia e era um bom pai de família, com 7 catraios e catraias, bigode, e barriga de tinto. (Desculpem a redondância, a da barriga isto é.) Tinha uma mulher, a Arlinda, que era boa cozinheira, lavadeira, e parideira, e pouco mais dela o Asdrúbal sabia, porque também pouco mais lhe interessava.
Ao lado d'Enxada-àbaixo, ficava Enxada-àcima, e ,chegado Agosto, era altura da romaria anual nas duas Enxadas. Ora, como em quaisquer aldeias vizinhas que se prezem, os Enxadenses de baixo não gostavam dos Enxadenses de cima, e vice-versa. Acontece que a Arlinda, mulher do Asdrúbal, era de Enxada-àcima, mas isso não fazia diferença nenhuma, pois sendo a sogra do Asdrúbal de Enxada-àcima, mais um motivo para não gostar. De há um tempo para cá, a noite do arraial nas duas aldeias (que, por tradição e adoração ao mesmo santo, era no mesmo dia.) consistia não em ver quem tinha o melhor fogo, mas quem sabotava mais e melhor. Ora o Asdrúbal era o maior da sua aldeia, e portanto, ficou encarregue ele de toda a sabotagem.
Aconteceu que, nessa dita noite, o catraio mais velho do Asdrúbal, o Zé, fazia os seus 18 anos, pelo que o Asdrúbal foi pagar uns copos à mocidade, e a ele mesmo.
Mas, bêbado ou não, o Asdrúbal e os seus compinchas eram homens de palavra e lá foram ao dever, na sua carroça, aos solavancos, que ritmadamente acompanhavam os soluços do tinto da tasca do tio António. Desmontaram o que ia ser o arraial de Enxada-àcima e empacotaram tudo para a carroça do Asdrúbal. Pela estrada, à volta, encontraram também a malta d'Enxada-àcima com o arraial dos rivais.
Saltou tudo das carroças e resolveram o problema da melhor maneira que sabiam: à porrada. Felizmente, tanto uns como os outros estavam bebidos e em vez de ser enxada acima, enxada abaixo, enxada na cabeça, enxada nos rins, nem se acertavam e pareciam estar a fazer uma dança qualquer ridícula de capoeira (simplesmente pareciam galinhas). Acidentalmente, começou tudo a acender o fogo-de-artifício, e, numa clareira no meio do mato, lá se fez o arraial.
Foi o mais bonito de que as gentes das duas aldeias se lembram, e, com o coração mole e tocado daquilo tudo, ou simplesmente com a bebedeira, acabaram as duas aldeias por fazer o bailarico junto confraternizando e rindo como irmãos (ou irmões).
No dia seguinte andaram à batatada, cebolada, nabiçada, etc. Tudo voltara ao normal.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Medo do escuro
Iam juntos, de mão dada, aéreos e compenetrados um no outro. Caminhavam junto a um bosque, rindo e corando como se nada mais houvesse senão a inocência e leviandade daquele momento, e gozavam de um pôr-do-sol que se espalhava pelas nuvens adentro. Um corvo passara a voar, prenunciando a noite, e pousara numa poça de água debicando e mirando-se no reflexo. Na inglória ave nada mais se via senão as asas da liberdade que ironicamente carregavam o fado. Chegaram a uma encruzilhada, o deleitoso pôr-do-sol tinha dado lugar ao tenebroso crepúsculo de sombras falsas e incompletas. Abraçaram-se, beijaram-se, e olharam-se. Olharam-se de tal desejo que pareciam querer, mais do que sucumbir ao desejo, eterniza-lo num qualquer sonho impossível e imortal.
- Não me deixes, por favor... - Dizia ela apertando as suas mãos fortes.
-Porquê?
-Porque sim... tenho medo.
-Medo? porque hás de ter medo?
-Oh, não me olhes assim... porque sim, pronto.
-Anda lá, fala comigo...
-Tenho medo de ficar sozinha...
-Sozinha? não vais ficar sozinha, eu volto, como sempre volto, nunca te deixo, nunca!
-Não é isso... tenho medo de estar sozinha, tenho medo de estar comigo...
-Hum?
-Tenho medo do que me possa fazer, de acordar de tudo isto...
-Acordar de quê? isto é real.
-Mas não parece, é tudo demasiado simples, demasiado perfeito para ser real. Não estou habituada assim a estar feliz, assim leve, sei lá... não acho que seja suposto, e tenho medo de me aperceber disso. Sozinha, no escuro.
-Oh, isso são só inseguranças, vais ver que passa.-Porquê?
-Porque sim... tenho medo.
-Medo? porque hás de ter medo?
-Oh, não me olhes assim... porque sim, pronto.
-Anda lá, fala comigo...
-Tenho medo de ficar sozinha...
-Sozinha? não vais ficar sozinha, eu volto, como sempre volto, nunca te deixo, nunca!
-Não é isso... tenho medo de estar sozinha, tenho medo de estar comigo...
-Hum?
-Tenho medo do que me possa fazer, de acordar de tudo isto...
-Acordar de quê? isto é real.
-Mas não parece, é tudo demasiado simples, demasiado perfeito para ser real. Não estou habituada assim a estar feliz, assim leve, sei lá... não acho que seja suposto, e tenho medo de me aperceber disso. Sozinha, no escuro.
-Ohh... sei lá.
-Olha para mim, vais ficar bem.
E com um beijo na testa, ele despediu-se dela. Conforme ela atravessava um camião passara, dilacerando-a no pára-choques. Ele olhou para trás, e petrificou, mortificado, prostrado no chão. Um corvo voava nos céus, e colhera a sua alma. Levara-a para a luz que restava do crepúsculo, para o horizonte. E ele ali ficara, na escuridão, perdido, amedrontado, acorrentado à saudade, amorfo. Percebera o medo dela. Não o de ficar sem companhia, mas o de ficar consigo. As trevas tomaram conta dele, apagara-se na sombra...
(Para a Fábrica de Letras, "Preto & Branco")
(Para a Fábrica de Letras, "Preto & Branco")
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
O medo fecha-se em mim,
ou sou eu quem me sela nele?
Escondo este meu ser ruim
na armadura d'eriça pele.
Veias asquerosas e palpitantes,
escorre e esvaia o sangue em vós,
Corre a adrenalina a jusante.
Gritos surdos de quebra-noz.
Bate, mói e esfola,
vai e vem como a mola,
a angústia, o sangue e a cela
que se fecha dentro dela.
ou sou eu quem me sela nele?
Escondo este meu ser ruim
na armadura d'eriça pele.
Veias asquerosas e palpitantes,
escorre e esvaia o sangue em vós,
Corre a adrenalina a jusante.
Gritos surdos de quebra-noz.
Bate, mói e esfola,
vai e vem como a mola,
a angústia, o sangue e a cela
que se fecha dentro dela.
domingo, 15 de novembro de 2009
Neologismo
O neologismo,
é desculpa duma mente
criativa, mas estúpida,
que nem sabe o que sente
e quer ser é vendida.
O neologismo,
é fofinho e querida
e deveras bem parecido
enquanto é fresco e viçoso
e se usa com gozo.
O neologismo,
é arma e floreado,
sem sequer ter feriado,
tanto se dá como se vende,
e pouca gente o entende.
é desculpa duma mente
criativa, mas estúpida,
que nem sabe o que sente
e quer ser é vendida.
O neologismo,
é fofinho e querida
e deveras bem parecido
enquanto é fresco e viçoso
e se usa com gozo.
O neologismo,
é arma e floreado,
sem sequer ter feriado,
tanto se dá como se vende,
e pouca gente o entende.
sábado, 14 de novembro de 2009
bruit nocturne
Ruídos e mais ruídos, a entrarem, encavalintado-se uns nos outros reclamando um lugar, apenas querem ser ouvidos. E no entanto, por serem tantos e tão indistintos, nada passam de interferência. Apenas aqueles que lá estavam, já de muito tempo, prevalecem e continuam a ser ouvidos ditando uma qualquer-coisa-cracia que insiste em comandar o sujeito. Não é o silêncio que incomoda, são os ruídos demasiado ténues para se distinguirem quer do som quer do silêncio, as malditas indefinições.
E porém, por entre os ruídos nocturnos, parece ouvir-se uma orquestra silênciosa de medo, que nos invade e nos cobre de angústia. Queremos tanto ouvir, um estalido, um abrir duma porta, um ligar duma luz, algo que nos distraia e acalme e mande os malditos ruídos embora. No entanto, a adrenalina palpitante da estática cresce, e já não a conseguimos largar, viciamos no medo, na angústia. Mais do que queremos a calma queremos deseja-la, quer venha ou não...
E porém, por entre os ruídos nocturnos, parece ouvir-se uma orquestra silênciosa de medo, que nos invade e nos cobre de angústia. Queremos tanto ouvir, um estalido, um abrir duma porta, um ligar duma luz, algo que nos distraia e acalme e mande os malditos ruídos embora. No entanto, a adrenalina palpitante da estática cresce, e já não a conseguimos largar, viciamos no medo, na angústia. Mais do que queremos a calma queremos deseja-la, quer venha ou não...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
La Masquerade
Ele era feio, mas feio! Aquela cara horrenda só não se parecia com um animal, porque não há animal assim tão feio. Brotava nojo por cada protuberância e cova do seu rosto, e eram muitas. Qualquer alma bem intencionada, nauseava, só de olhar para ele. Ele não gostava de si, os outros não gostavam dele. Por mais coração puro ou alma inspirada que tivesse, era horripilante. Era um monstro.
"Matem-no!"
"Queimem-no!"
"Esfolem-no!"
As pobres criaturas tinham medo.
Ataram-no a um poste, de cara tapada e bem trajado, regaram-no com azeite, e queimaram-no. Oh, como aquela gente se maravilhava com o fogo. Trazia-lhes o inferno para mais perto deles afinal. Ouviram-se gritos de horror enquanto o seu corpo se contorcia e a sua cara derretia. Eis que, no último momento, ele se ergue como um anjo e expande as suas asas tapando o sol àquela gentinha acabrunhada. Fome e pestilência foi o que se seguiu, com direito a todas as pragas. Foi-lhes dada a imortalidade, e assim, podres, moribundos e decompostos viveram a sua vida eterna. Eram feios, podres e horrendos.
"Queimem-no!"
"Esfolem-no!"
As pobres criaturas tinham medo.
Ataram-no a um poste, de cara tapada e bem trajado, regaram-no com azeite, e queimaram-no. Oh, como aquela gente se maravilhava com o fogo. Trazia-lhes o inferno para mais perto deles afinal. Ouviram-se gritos de horror enquanto o seu corpo se contorcia e a sua cara derretia. Eis que, no último momento, ele se ergue como um anjo e expande as suas asas tapando o sol àquela gentinha acabrunhada. Fome e pestilência foi o que se seguiu, com direito a todas as pragas. Foi-lhes dada a imortalidade, e assim, podres, moribundos e decompostos viveram a sua vida eterna. Eram feios, podres e horrendos.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Auto-desanálise
Sou uma fraude.
Em tudo aquilo que mostro ser, não sou.
Tudo aquilo que digo ser, é mentira.
Aquilo que penso que sou e que digo não ser, é uma falsidade.
Sou nada, mas não se pode ser nada e dizer que se é nada.
Nada é nada e não existe, portanto não é.
Podia dizer que sou um infinitésimal, afinal sou quase nada.
Mas também não sou um número.
O que podia ser,
o que quero ser,
o que sonho ser,
o que devia ser,
é tudo ilusório, e enormérrimo ao pé do que sou.
Sou humano, sou reles, sou podre.
Mas tenho a presunção de dizer que sou como vós:
Reles, miseráveis, podres.
(O que me faz pior que vós, suponho)
Eu escrevo e as letras não são minhas.
As palavras não são minhas.
Meu, é só o pensamento, e está debilitado.
Sou um ultraje, uma afronta.
Por almejar ser o que não posso ser,
por ser o que não devia ser,
por escrever com palavras de outros,
por seguir valores de outros, ideias de outros,
e mesmo assim me achar original.
Sou um momento, um instante, o agora.
Já me fui, mas estou cá outra vez, e outra.
Serei e fui finito, mas sou infinito,
pois da infinidade do instante, não me interrompo ou fragmento.
Sinto?
Penso?
Existo?
Importa?
Em tudo aquilo que mostro ser, não sou.
Tudo aquilo que digo ser, é mentira.
Aquilo que penso que sou e que digo não ser, é uma falsidade.
Sou nada, mas não se pode ser nada e dizer que se é nada.
Nada é nada e não existe, portanto não é.
Podia dizer que sou um infinitésimal, afinal sou quase nada.
Mas também não sou um número.
O que podia ser,
o que quero ser,
o que sonho ser,
o que devia ser,
é tudo ilusório, e enormérrimo ao pé do que sou.
Sou humano, sou reles, sou podre.
Mas tenho a presunção de dizer que sou como vós:
Reles, miseráveis, podres.
(O que me faz pior que vós, suponho)
Eu escrevo e as letras não são minhas.
As palavras não são minhas.
Meu, é só o pensamento, e está debilitado.
Sou um ultraje, uma afronta.
Por almejar ser o que não posso ser,
por ser o que não devia ser,
por escrever com palavras de outros,
por seguir valores de outros, ideias de outros,
e mesmo assim me achar original.
Sou um momento, um instante, o agora.
Já me fui, mas estou cá outra vez, e outra.
Serei e fui finito, mas sou infinito,
pois da infinidade do instante, não me interrompo ou fragmento.
Sinto?
Penso?
Existo?
Importa?
domingo, 1 de novembro de 2009
Chuva
Abençoai a chuva pois vos deslava dos vossos pecados, almas conspurcadas e imundas!
E também rega as plantinhas.
E dá para fazer "chap-chap".
Está a chover
E também rega as plantinhas.
E dá para fazer "chap-chap".
Está a chover
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Manifestum!
O cagalhão esperneia,
Não corre nem anda.
O cagalhão não é produto da razão,
é do traseiro.
Toda a gente tem nojo do cagalhão,
mas que ele é preciso, lá isso é.
O cagalhão não é intelectual,
nem humorista, ou cronista,
é merda.
Se o cagalhão cheira mal,
é dos vossos narizes,
Se o cagalhão tem mau aspecto,
é dos vossos olhos.
O cagalhão não sente nem pensa,
é bosta e flutua.
O cagalhão não morre,
o cagalhão seca.
Não corre nem anda.
O cagalhão não é produto da razão,
é do traseiro.
Toda a gente tem nojo do cagalhão,
mas que ele é preciso, lá isso é.
O cagalhão não é intelectual,
nem humorista, ou cronista,
é merda.
Se o cagalhão cheira mal,
é dos vossos narizes,
Se o cagalhão tem mau aspecto,
é dos vossos olhos.
O cagalhão não sente nem pensa,
é bosta e flutua.
O cagalhão não morre,
o cagalhão seca.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Winterness
Carme(sim)
Pedaços de carne,
Sangrenta,
Podre,
Reles,
Fétida.
Corpos lânguidos,
prostrados no chão
de braços estendidos
pedindo uma mão.
"Oh de cima,
tu do alto,
Ouves?
Os gritos pavorosos,
Os risos frenéticos,
Os choros histéricos?
E tu, de cima,
do mais alto céu
e digno trono,
vês?
A carne a ser esbatida,
o corpo rendido
a alma vendida?
E tu prostrado e sentado,
sentes?
A paz, a guerra,
o amor, o ódio,
a tristeza, a miséria,
a alegria contagiante?"
Silêncio...
Carne exangue,
Corpo exausto,
vazio,
morto.
Sangrenta,
Podre,
Reles,
Fétida.
Corpos lânguidos,
prostrados no chão
de braços estendidos
pedindo uma mão.
"Oh de cima,
tu do alto,
Ouves?
Os gritos pavorosos,
Os risos frenéticos,
Os choros histéricos?
E tu, de cima,
do mais alto céu
e digno trono,
vês?
A carne a ser esbatida,
o corpo rendido
a alma vendida?
E tu prostrado e sentado,
sentes?
A paz, a guerra,
o amor, o ódio,
a tristeza, a miséria,
a alegria contagiante?"
Silêncio...
Carne exangue,
Corpo exausto,
vazio,
morto.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Dead End
Caí. Não me levantei, rastejei até ao fundo do corredor. Lá, estava uma porta, velha e carunchosa, de uma madeira maciça e escura. Parecia dar para uma catacumba ou algo parecido, das bordas vinha um ar frio e fétido e a porta era baixa com uma janelinha gradeada. Tinha o trinco partido e a maçaneta pingada e escorregadia. Provavelmente alguém lá passara, não há muito tempo. Apoiado num braço, com uma dor latente no pulso que me parecia querer rasgar o braço ao meio, lá fiz por chegar à maçaneta e abri a porta. Empurrei-a num ranger tenebroso e vi umas escadas, em caracol, esguias e mal iluminadas. Arrastei-me de novo, com o peito comprimido contra o chão. As escadas eram de um calcário gasto e deslizante, provavelmente do uso e da água que lá passara. Empurrei-me com dor, o peito dorido dos solavancos no chão e os pulmões sofridos do ar húmido e gélido que se respirava.
Cheguei ao fim. Havia uma outra porta. Esta, ao contrário da anterior era toda pomposa e bem decorada, de talha dourada e maçaneta repleta de joalharia. Metade de ela era vidrada, de um vidro fumado espelhante e elegante, a outra, a metade de baixo, ostentava um belo brasão que parecia remontar talvez à mais alta aristocracia do século XV. Encontrei a maçaneta e rodei, nada aconteceu, estava trancada. Ali fiquei, sem força para voltar onde estava, sem vontade nem esperança de derrubar aquela barreira. Morri, apodreci, desapareci. A porta, essa, permaneceu fechada, quem sabe se algum dia esteve aberta...
Cheguei ao fim. Havia uma outra porta. Esta, ao contrário da anterior era toda pomposa e bem decorada, de talha dourada e maçaneta repleta de joalharia. Metade de ela era vidrada, de um vidro fumado espelhante e elegante, a outra, a metade de baixo, ostentava um belo brasão que parecia remontar talvez à mais alta aristocracia do século XV. Encontrei a maçaneta e rodei, nada aconteceu, estava trancada. Ali fiquei, sem força para voltar onde estava, sem vontade nem esperança de derrubar aquela barreira. Morri, apodreci, desapareci. A porta, essa, permaneceu fechada, quem sabe se algum dia esteve aberta...
terça-feira, 20 de outubro de 2009
sábado, 17 de outubro de 2009
Ode ao Zé, poema pimba
O zé,
Era mais um sujeito,
igual a muitos outros
Sem graça ou trejeito.
Era um bonacheirinho
de suiça despenteada
e cara de vinho.
De tintol na mão
e boina na testa,
camb'leava no chão,
Vindo da festa.
Desgraçada da Maria,
e pobre do zé,
conforme já ia,
nem se via de pé
Pêlo na orelha,
migalhas no bigode.
Assim o via na quelha,
quem encontrava Zé Pagode.
Era mais um sujeito,
igual a muitos outros
Sem graça ou trejeito.
Era um bonacheirinho
de suiça despenteada
e cara de vinho.
De tintol na mão
e boina na testa,
camb'leava no chão,
Vindo da festa.
Desgraçada da Maria,
e pobre do zé,
conforme já ia,
nem se via de pé
Pêlo na orelha,
migalhas no bigode.
Assim o via na quelha,
quem encontrava Zé Pagode.
domingo, 11 de outubro de 2009
IV - A Metamorfose
E Eis que o sol se ergueu para iluminar a Terra e todos aqueles que eram dignos de a habitar. Pois se eram dignos de habitar a Terra e receber o calor majestoso do Sol, que mais mereceriam eles? Com a ascensão do bicharoco Homem, surgiu também a metafísica para lhe atormentar a alma, virou-se para os céus de braços abertos à espera de respostas. É de facto um cliché, ainda hoje fazemos isso, que raio evoluímos nós? A nossa alma, um recipiente à espera de ser cheio, é muito espelhada e inconstante. Por vezes, o mínimo lampejo de luz chega para alumiar esta alma e enche-la de qualquer coisa. Talvez por isso nos viremos para o céu iluminado e majestoso, sem nos depararmos que estamos simplesmente a tentar olhar para nós, a tentar projeccionar o nosso ego bem alto para todos o verem.
E assim, com a mesma facilidade com que um padeiro cria um pão ou um filho com a vizinha, o homem criou Deus à sua imagem e semelhança e todas as respostas foram dadas. Afinal, que interessa se a resposta é falsa? No fim, é tudo o mesmo: Morte. Portanto, "bem aventurados são os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus." Assim diz a Bíblia, e assim o é, pois aquele que tem fé deixa de ser atormentado por perguntas, é cego, reles, estúpido, inferior, mas é estupidamente feliz. Foi cedo que o ego do Homem se expandiu e se tornou venerável. Colocar-nos num pedestal e olharmo-nos de fora. Que orgulho! Que poder! Que egoísmo! Que podridão tão prazerosa! A ascenção do homem fez-se do ego. Neotenia? Sim, mantemos para sempre a curiosidade de uma criança, e sim, também seremos sempre umas crianças mimadas e egocêntricas. Um bebé de 1 mês não tem percepção de nada senão de si. Assim nós somos, vemo-nos como centro e propósito do universo girar e de toda a vida existir. Auto-aniquilamo-nos porque Deus assim o quer, porque nós assim o queremos. Reinamos por toda a terra, criamos e destruímos, é um facto. Somos donos e senhores de nós mesmos, mas somos muitos e temos medo da anarquia. Então, como camponeses amedrontados, precisamos do nosso Senhor, duma organização hierárquica, do mestre das marionetas. Somos marionetas da nossa própria criação, somos essa criação. Somos a mais pura e bela das criaturas, ou assim nos queremos fazer parecer. A condição humana como deve ser por natureza é imoral, pecaminosa, somos seres de desejos, tentações, vontade, sonhos e inconsciência. E no entanto, sabendo nós que isto é oposto do Deus recto que criámos, vemo-nos como nossos próprios Deuses, pois nos convencemos que apenas reinando no pecado a bondade se distinguirá. De facto distingue, tem como hábito ser cruxificada mais ou menos literalmente. O mártir, o santo apedrejado, cuspido e repugnado. Na sua vida terrena foi bom, é por conseguinte escumalha. Na vida celeste será igual a todos os imorais que o apedrejaram, escumalha bem tratada. A ideia de Deus reside na imoralidade e no pecado. Aquele que julga pela intenção e não pela acção é imoral e facilmente enganável. Assim nós o queremos, um juiz benevolente e facilmente corrompido. Todos os que temem o juízo final temem a Deus e são cumplices desta imoralidade. Aqueles que não participaram na sua criação temem ao homem ou não temem. Quem não teme é louco, e quem teme ao homem, tem medo de si e vive no desespero e perdição. Por temermos o desespero tememos a Deus, e no entanto não sabemos o que este é. Caminhamos para o desconhecido desconhecivel como um louco se lança para um comboio.
Vencemos os nossos medos primitivos? Não, apenas os embelezámos.
"Ashes to ashes, dust to dust..."
E assim, com a mesma facilidade com que um padeiro cria um pão ou um filho com a vizinha, o homem criou Deus à sua imagem e semelhança e todas as respostas foram dadas. Afinal, que interessa se a resposta é falsa? No fim, é tudo o mesmo: Morte. Portanto, "bem aventurados são os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus." Assim diz a Bíblia, e assim o é, pois aquele que tem fé deixa de ser atormentado por perguntas, é cego, reles, estúpido, inferior, mas é estupidamente feliz. Foi cedo que o ego do Homem se expandiu e se tornou venerável. Colocar-nos num pedestal e olharmo-nos de fora. Que orgulho! Que poder! Que egoísmo! Que podridão tão prazerosa! A ascenção do homem fez-se do ego. Neotenia? Sim, mantemos para sempre a curiosidade de uma criança, e sim, também seremos sempre umas crianças mimadas e egocêntricas. Um bebé de 1 mês não tem percepção de nada senão de si. Assim nós somos, vemo-nos como centro e propósito do universo girar e de toda a vida existir. Auto-aniquilamo-nos porque Deus assim o quer, porque nós assim o queremos. Reinamos por toda a terra, criamos e destruímos, é um facto. Somos donos e senhores de nós mesmos, mas somos muitos e temos medo da anarquia. Então, como camponeses amedrontados, precisamos do nosso Senhor, duma organização hierárquica, do mestre das marionetas. Somos marionetas da nossa própria criação, somos essa criação. Somos a mais pura e bela das criaturas, ou assim nos queremos fazer parecer. A condição humana como deve ser por natureza é imoral, pecaminosa, somos seres de desejos, tentações, vontade, sonhos e inconsciência. E no entanto, sabendo nós que isto é oposto do Deus recto que criámos, vemo-nos como nossos próprios Deuses, pois nos convencemos que apenas reinando no pecado a bondade se distinguirá. De facto distingue, tem como hábito ser cruxificada mais ou menos literalmente. O mártir, o santo apedrejado, cuspido e repugnado. Na sua vida terrena foi bom, é por conseguinte escumalha. Na vida celeste será igual a todos os imorais que o apedrejaram, escumalha bem tratada. A ideia de Deus reside na imoralidade e no pecado. Aquele que julga pela intenção e não pela acção é imoral e facilmente enganável. Assim nós o queremos, um juiz benevolente e facilmente corrompido. Todos os que temem o juízo final temem a Deus e são cumplices desta imoralidade. Aqueles que não participaram na sua criação temem ao homem ou não temem. Quem não teme é louco, e quem teme ao homem, tem medo de si e vive no desespero e perdição. Por temermos o desespero tememos a Deus, e no entanto não sabemos o que este é. Caminhamos para o desconhecido desconhecivel como um louco se lança para um comboio.
Vencemos os nossos medos primitivos? Não, apenas os embelezámos.
"Ashes to ashes, dust to dust..."
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Outono
Choveu, finalmente choveu. Andava com saudades de apanhar uma molha. Dai ao Outono o que é do Outono, e tirai ao verão o que não lhe pertence. A culpa é do aquecimento global, os ambientalistas barbudos e cabeludos bem avisaram, mas quê? Dar ouvido a cabeludos hippies? Agora se é o Al-gore...
As andorinhas já foram, as folhas caem ensopadas, os campos alagam-se e toda a sujidade parece multiplicar-se numa torrente de lama adoravelmente porca.
O tempo cinzento cria uma certa inércia, nostalgia, ficamo-nos a olhar por uma janela molhada para a dança das folhas caídas, estupidamente quedos.
Queremos exprimir um vazio e portanto tentamos encher chouriço com parvoíces no blog.
As andorinhas já foram, as folhas caem ensopadas, os campos alagam-se e toda a sujidade parece multiplicar-se numa torrente de lama adoravelmente porca.
O tempo cinzento cria uma certa inércia, nostalgia, ficamo-nos a olhar por uma janela molhada para a dança das folhas caídas, estupidamente quedos.
Queremos exprimir um vazio e portanto tentamos encher chouriço com parvoíces no blog.
In-existence
I look away, into the neverending horizons of oblivion. Than I look again, within myself, I see childish mourning and weeping for a neverending past, I see a burning desire for freedom and a nevercoming future. Everything delighfully filled with bliss, peace, love, hopeless dreams from a somehow lost soul.
"All dreams end here
Where our cries began
Resounding to museums
Of a world we believed
Neverending
And we stop
Exhausted
Beginning
Not again
And the panic
Like the light
Of some star
Exploding
Flashing in black holes of not knowing
If we ever made a away out of this mud"
"All dreams end here
Where our cries began
Resounding to museums
Of a world we believed
Neverending
And we stop
Exhausted
Beginning
Not again
And the panic
Like the light
Of some star
Exploding
Flashing in black holes of not knowing
If we ever made a away out of this mud"
sábado, 19 de setembro de 2009
Manifesto Anti-humano
ARGH!
Porra pra isto!
Escumalha, lixo
É o que todos são.
Metem-me nojo,
malditos pretenciosismos...
Comem-se, Matam-se,
lambem-se, mastigam-se
e cospem-se para a sarjeta.
Morram!
Vós e os vossos egos queridos,
Vós e o vosso deslumbramento.
Acordem, despertem!
São miseráveis,
ralé da mais baixa.
Animais!
Comem, bebem, dormem,
Fodem-se, fodem-se, fodem-se.
Bastardos da Jezebel que vos pariu.
Mandei a ética e a moral para o raio que vo-la parta.
Bestas! Selvagens!
Conspurcai a vossa raça imunda.
Apodrecei que já estais podres,
Vivei nas vossas fezes.
Morram!
Porra pra isto!
Escumalha, lixo
É o que todos são.
Metem-me nojo,
malditos pretenciosismos...
Comem-se, Matam-se,
lambem-se, mastigam-se
e cospem-se para a sarjeta.
Morram!
Vós e os vossos egos queridos,
Vós e o vosso deslumbramento.
Acordem, despertem!
São miseráveis,
ralé da mais baixa.
Animais!
Comem, bebem, dormem,
Fodem-se, fodem-se, fodem-se.
Bastardos da Jezebel que vos pariu.
Mandei a ética e a moral para o raio que vo-la parta.
Bestas! Selvagens!
Conspurcai a vossa raça imunda.
Apodrecei que já estais podres,
Vivei nas vossas fezes.
Morram!
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Devaneios
A Inércia é uma coisa muito confortável. Estar quietinho, a pasmar, totalmente abstraído... Vive-se tanto parado e inútil. Varre-se-nos tudo o que vem dos sentidos, damos por nós perdidos em devaneios infantis, ali, sentados num canto. Encolhidos, como que para nos aquecermos, ou talvez numa recordação inconsciente de quando fomos fetos protegidos e frágeis no ventre materno. A melancolia apodera-se de um olhar esvaziado, vemo-nos a nós, confortavelmente sós, a sonhar de tudo menos de solidão. Palavras ternurentas, acolhedoras que nos são sopradas pelo vento, ou talvez apenas pela nossa mente histérica de uma alma desesperada. Somos tão crianças, naquela imaginação tão pura e singela, uma simplicidade de tal ordem que deve ser perfeita, ou pelo menos não se lhes vêem defeitos. Mas claro, um sonho não se quer imperfeito, qual seria o propósito de nos abstrairmos num universo tão reles como o real?
Queria voar... criar e recriar, mudar tudo à minha volta como quem muda um cenário e as personagens dum filme. Sim, queria que a minha vida fosse como esses filmes, uns lamechas, outros psicadélicos, outros de terror, comédias, e até daquele cinema independente pseudo-intelectual. Queria rebentar com isto tudo, com esta hipocrisia, falsidade, egoismo e imoralidade a que chamamos de "sociedade", com todos estes prédios copiosamente horrorosos, queria revirginizar a Terra para que depois a desposasse à minha vontade. Queria, aliás, quero, pura e simplesmente, viver. Não sei o que isso é, mas supõe-se que seja giro até.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Poste com Piada (ou não)
Ora, anda um jovem adolescente perturbado como sou eu (Isto é um isco para pitas, na realidade sou um violador de 43 anos monotomate), nas suas vidas perturbadas de escola (Vá, é boa vida, mas eu tenho a mania gosto de dizer que ando chateado ou revoltado) e a modos que me deparei com um cartaz da Manuela Ferreira Leite e disse para comigo: "É isso, vou fazer crepes logo à noite!", e assim foi. Noutros campos mais revelantes para a blogosfera aquilo que eu queria efectivamente partilhar é que, numa tentativa de introspectiva, me apercebi que o auge deste poio (chamem-lhe blog se quiserem, ou pia como já lhe chamaram) foi quando um Emo anônimo (sim, com acento circunflexo que o jovem era brasileiro) me chamou de viado. Oh, bons velhos tempos em que eu era pito (milho! milho! milho!), e foi isso que me motivou a aparvalhar um bocado para quebrar o falso intelectualismo que gosto de cultivar em mim, no blog, e no quintal do vizinho para que tenha batatas nihilistas. Enfim, como pegar na campanha está na moda, o Paulo Portas já não se queixa de mim, pois já falei em agricultura! (Pena que seja agricultura anarco-libertária, mas a batata do vizinho é um ser livre e pensante que não cede ao sistema nem se deixa corromper por qualquer bichinho, nem o famoso temível e tenebroso "Escaravelho da Batata".) Mas falando de bichinhos... Não gosto de melgas, tudo bem que "já não durmo sozinho", mas porra, são chatas. Uma pessoa deita-se, relaxa e pimba! "Bzzzzz". Acende a luz, olha em volta "a safada escondeu-se, ah safadona, era quem lhe acabasse com a safadisse à safada da melga", desliga a luz e de novo... "Bzzzzz", desta vez, nada como enfiar a cabeça debaixo dos lençois com veemência e violência. (Ainda bem que o almoço não era feijoada) E depois disto eis que surge, junto ao ouvido como que por geração espontânea, um zunido maravilhosamente cantado por anjo e que me faz desejar com todas as minhas forças bradar bem alto para os céus: "C***lhos ta f*dam mais à p*ta da c*na da tua tia que te pariu numa sexta feira à tarde enublada com humidade relativa de 83%" (Mamã, se leres isto, estou possuído por um demónio com grande conhecimento de asteriscos). Outra coisa gira e fofixérrima é a gripe A, finalmente posso fazer uso da minha capacidade nojenta de tossir ruidosamente em público, e causar o pânico. Nada como dizer com subtileza "Ontem estava com a testa a arder, e ando cá com uma tosse... mas não há de ser nada" E de seguida espirrar para cima das pessoas com toda a pujança e imensos projecteis babosos. Mas enfim, honestamente tinha de aparvalhar sem nada para dizer e achei que vós ilustre iternautas eram o depósito indicado. Sem nada mais me despeço com: "Anônas", "Anônas"
sábado, 5 de setembro de 2009
Vespertina retardada
3 da manhã, e sou o gajo que dá com a colher de pau nos tachos (não é uma metáfora para coisas porcas, é mesmo interpretação literal.)
"Foge galinha" o pobre do galináceo tinha dentes e era peludo.
Ninho do cão, pocilga, esterco. Ah... home sweet home. É bom encontrarmos um sítio onde sentimos que pertencemos.
"Je t'aime", como uma outra língua se torna sempre mais poética e ao mesmo tempo nos permite refugiar um pouco o sentimento, um calor confortável.
Riso, choro, a actividade social mete-me nos píncaros. Malditos anos de solidão e nerdice que não me ensinaram a lidar com isso.
Gritos de horror num caminho sinuoso, colmeias num penedo sem acesso, mas que foda?
Pobre neandertal que só sabe ridicularizar-se, diz que é esquisito, diz que é drogado, diz que é lunático (estava lua cheia, devia ser disso tanta maluqueira, acho que sou lobisomem, pelo menos segundo as que cortam pulsos...), mas é só um pobre coitado que há de morrer a um canto, sem que alguém tenha prestado atenção aos seus avisos. (Isto ficou fatídico, até parece que o raça do macaco farfalhudo é um profeta).
Diz que rema de força bruta, diz que deixa cair as rosas, diz que leva tudo na boa, diz que é piquinhas e sensível, um grandessíssimo incoerente é o que ele é, mas pronto, ele que morra.
Ah, e o toy quis lançar-me no mundo da música, pelo menos foi a minha interpretação de tudo aquilo.
De qualquer modo, já tenho este blog há mais de um ano! yuhu! (vou referir que esteve mais de 6 meses parado?)
"Foge galinha" o pobre do galináceo tinha dentes e era peludo.
Ninho do cão, pocilga, esterco. Ah... home sweet home. É bom encontrarmos um sítio onde sentimos que pertencemos.
"Je t'aime", como uma outra língua se torna sempre mais poética e ao mesmo tempo nos permite refugiar um pouco o sentimento, um calor confortável.
Riso, choro, a actividade social mete-me nos píncaros. Malditos anos de solidão e nerdice que não me ensinaram a lidar com isso.
Gritos de horror num caminho sinuoso, colmeias num penedo sem acesso, mas que foda?
Pobre neandertal que só sabe ridicularizar-se, diz que é esquisito, diz que é drogado, diz que é lunático (estava lua cheia, devia ser disso tanta maluqueira, acho que sou lobisomem, pelo menos segundo as que cortam pulsos...), mas é só um pobre coitado que há de morrer a um canto, sem que alguém tenha prestado atenção aos seus avisos. (Isto ficou fatídico, até parece que o raça do macaco farfalhudo é um profeta).
Diz que rema de força bruta, diz que deixa cair as rosas, diz que leva tudo na boa, diz que é piquinhas e sensível, um grandessíssimo incoerente é o que ele é, mas pronto, ele que morra.
Ah, e o toy quis lançar-me no mundo da música, pelo menos foi a minha interpretação de tudo aquilo.
De qualquer modo, já tenho este blog há mais de um ano! yuhu! (vou referir que esteve mais de 6 meses parado?)
lamentações
Dizem que sou um tipo esquisito.
Estranho, nojento, anormal. Mas porque raio?
É do que penso?
É do que sinto?
É do que faço?
É do que digo?
É do que sou?
É que todos pensamos, sentimos, fazemos, dizemos e existimos...
Que é que isso tem de esquisito?
Serei uma afronta à cultura de massas, à torrente criada pelos vácuos dessas almas?
É que não sou diferente deles, quero o mesmo que eles, contento-me com o mesmo que eles, por meios e maneiras diferentes, mas vai tudo dar ao mesmo.
Porque raio é que os segrego e eles me segregam a mim, porque raio somos tão complicados, afinal tenho o mesmo que eles, um corpo humano e uma alma dúbia...
Eles que morram, eu que morra...
Estranho, nojento, anormal. Mas porque raio?
É do que penso?
É do que sinto?
É do que faço?
É do que digo?
É do que sou?
É que todos pensamos, sentimos, fazemos, dizemos e existimos...
Que é que isso tem de esquisito?
Serei uma afronta à cultura de massas, à torrente criada pelos vácuos dessas almas?
É que não sou diferente deles, quero o mesmo que eles, contento-me com o mesmo que eles, por meios e maneiras diferentes, mas vai tudo dar ao mesmo.
Porque raio é que os segrego e eles me segregam a mim, porque raio somos tão complicados, afinal tenho o mesmo que eles, um corpo humano e uma alma dúbia...
Eles que morram, eu que morra...
III - A Aurora da Civilização
"In the beginning the Earth was without form and void. But the sun shone upon the sleeping Earth, and deep inside the brittle crust, massive forces waited beyond reach."[1]
No princípio, a Terra estava coberta pelas trevas e era um ermo vazio, disforme e sem vida. Aos poucos a luz conquistou as trevas, e com ela veio a vida e toda a criação. O sol raiou para a vida. Do horizonte veio o conforto da luz e o falso firmamento entre terra e céu. Para uns este horizonte prolongava o vazio até à imensidão, para outros, punha fim ao mesmo vazio e limitava-nos a um universo caseiro e confortavelmente egocêntrico.
O homem era um bicho estúpido, amedrontado, como todos os animais, mas aquele macacão corcunda e peludo tinha algo mais, aquilo a que meia dúzia de gregos pomposos chamaram de racionalidade. Antropocentrismo. O bicharoco começou a achar-se digno de mais, a procurar mais, ir além do firmamento. Decidiu pois então que, em vez de se subjugar às leis da então tão harmoniosa natureza, devia ser ele a subjugar a natureza e toda a criação as seus pés. Começou a servir-se daquilo que estava à sua mercê: paus, ossos, calhaus, frutos, caça. Talvez tenha sido ousadia, talvez um lampejo de brilhantismo, talvez estivesse escrito, talvez tenha sido iluminação divina... mas o que é certo é que este Homem começou a ser Homem. O ser corcunda ergueu o queixo e venceu os medos. Apercebeu-se de que podia amedrontar outros. Apercebeu-se que tinha poder, e isso soube-lhe bem como o raio. E assim que terminou de subjugar a natureza, quando já tinha o seu império pronto a descolar, lembrou-se de começar a subjugar os seus. Começámos a andar à porrada, e descobrimos que isso servia para tudo. Começou o ciclo de ganância e auto-destruição da humanidade, ainda que numa fase primitiva. Mas também havia coisas boas, havia os marmanjos que não andavam à porrada e passavam o dia a olhar para o ar. Filósofos, cientistas, chamem-lhe o que quiserem, mas eram os que andavam sempre no firmamento, a mirar o horizonte e a querer engrandecer a espécie, afinal, conhecimento é poder, e poder é fixe. Mas, mais uma vez, temos tanto de egocêntricos como de auto-destrutivos, é uma faca de dois gumes. À medida que explorávamos o horizonte, este expandia-se ainda mais, quanto mais procuramos saber, mais nos apercebemos da nossa pequenez e ignorância. O vazio começou assim a atormentar-nos, ou pelo menos a atormentar meia dúzia de cabeças pensantes e sadísticas. Mas, no meio disto tudo, há e sempre houve as massas. Enormes grupos de indivíduos tão desprezíveis que insistimos em tratá-los como um só movimento fluído. Devíamos dar-lhes mais valor, um grupo de cabeças sintonizadas na mesma formatação também devia ser considerada uma maravilha da natureza. As massas são uma máquina de guerra cultural massissa. Com a devida formatação podem aniquilar uma cultura, uma raça, uma religião, sem que sintam remorsos ou a mínima percepção de consciência. E é assim que a humanidade se rege, pelo poder das massas, sobre as massas. A essência do humano está em subjugar o próximo, em matá-lo, em amá-lo.
"Every human being not going to the extreme limit is the servant or the enemy of man and the accomplice of a nameless obscenity" [2]
[1] Livro do Génesis
[2] in "A Chore for the Lost" by deathspell omega
O homem era um bicho estúpido, amedrontado, como todos os animais, mas aquele macacão corcunda e peludo tinha algo mais, aquilo a que meia dúzia de gregos pomposos chamaram de racionalidade. Antropocentrismo. O bicharoco começou a achar-se digno de mais, a procurar mais, ir além do firmamento. Decidiu pois então que, em vez de se subjugar às leis da então tão harmoniosa natureza, devia ser ele a subjugar a natureza e toda a criação as seus pés. Começou a servir-se daquilo que estava à sua mercê: paus, ossos, calhaus, frutos, caça. Talvez tenha sido ousadia, talvez um lampejo de brilhantismo, talvez estivesse escrito, talvez tenha sido iluminação divina... mas o que é certo é que este Homem começou a ser Homem. O ser corcunda ergueu o queixo e venceu os medos. Apercebeu-se de que podia amedrontar outros. Apercebeu-se que tinha poder, e isso soube-lhe bem como o raio. E assim que terminou de subjugar a natureza, quando já tinha o seu império pronto a descolar, lembrou-se de começar a subjugar os seus. Começámos a andar à porrada, e descobrimos que isso servia para tudo. Começou o ciclo de ganância e auto-destruição da humanidade, ainda que numa fase primitiva. Mas também havia coisas boas, havia os marmanjos que não andavam à porrada e passavam o dia a olhar para o ar. Filósofos, cientistas, chamem-lhe o que quiserem, mas eram os que andavam sempre no firmamento, a mirar o horizonte e a querer engrandecer a espécie, afinal, conhecimento é poder, e poder é fixe. Mas, mais uma vez, temos tanto de egocêntricos como de auto-destrutivos, é uma faca de dois gumes. À medida que explorávamos o horizonte, este expandia-se ainda mais, quanto mais procuramos saber, mais nos apercebemos da nossa pequenez e ignorância. O vazio começou assim a atormentar-nos, ou pelo menos a atormentar meia dúzia de cabeças pensantes e sadísticas. Mas, no meio disto tudo, há e sempre houve as massas. Enormes grupos de indivíduos tão desprezíveis que insistimos em tratá-los como um só movimento fluído. Devíamos dar-lhes mais valor, um grupo de cabeças sintonizadas na mesma formatação também devia ser considerada uma maravilha da natureza. As massas são uma máquina de guerra cultural massissa. Com a devida formatação podem aniquilar uma cultura, uma raça, uma religião, sem que sintam remorsos ou a mínima percepção de consciência. E é assim que a humanidade se rege, pelo poder das massas, sobre as massas. A essência do humano está em subjugar o próximo, em matá-lo, em amá-lo.
"Every human being not going to the extreme limit is the servant or the enemy of man and the accomplice of a nameless obscenity" [2]
[1] Livro do Génesis
[2] in "A Chore for the Lost" by deathspell omega
sábado, 29 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Ceia Natalícia fora de horas
A couve foi ao supermercado comprar bacalhau, o bacalhau, que veio a nado, estava salgado e cansado. A couve ficou aborrecida com o estado do bacalhau e disse "Espera aí que já vês o que é que é molho", e assim demolhou-o. Depois disso, o bacalhau chamou os amigos e houve batatada. A couve precisou de ser cozida coitada. Para a coisa acabar em beleza, resta saber que se ficou tudo a esfregar feitos azeiteiros.
Estática
Estático,
Parado,
Atónito,
Indiferente,
Passa a morte, passa Deus, passa o Diabo e passa toda a criação divina,
E os olhos fixos no vazio, num ponto indefinido,
Estúpido,
Reles,
insignificante.
Ecos cósmicos,
Uma profunda estática,
E por baixo, um ruído:
As vozes do Mundo.
Bradavam alto,
Cantavam num tom pomposo de galo.
E no entanto, eram um mero ruído,
Desprezível,
Desprezável,
Playback duma voz rouca e sofrida,
Que berra por misericórdia,
Pela dor, pelo medo...
Parado,
Atónito,
Indiferente,
Passa a morte, passa Deus, passa o Diabo e passa toda a criação divina,
E os olhos fixos no vazio, num ponto indefinido,
Estúpido,
Reles,
insignificante.
Ecos cósmicos,
Uma profunda estática,
E por baixo, um ruído:
As vozes do Mundo.
Bradavam alto,
Cantavam num tom pomposo de galo.
E no entanto, eram um mero ruído,
Desprezível,
Desprezável,
Playback duma voz rouca e sofrida,
Que berra por misericórdia,
Pela dor, pelo medo...
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
II - O eclipse
Nesse dia, o sol não raiou. Talvez tenha ficado quieto por inércia, talvez se tenha deixado adormecer, talvez esteja com a mão no queixo a mirar o horizonte enquanto sonha com as suas façanhas e as da sua amada... Certo é que a manhã também estranhou, coitada. Não pode trabalhar, e apercebeu-se assim, num lampejo de escuridão, de toda a sua ignorância. Toda a vida amanhecera, e, subitamente, não pôde amanhecer. Pensou ela em tudo o que podia ter aprendido ou feito na vida, agora já não sentiria tanto a falta do sol, mas ele, não estava, não quis aparecer, ou alguma estrela maior o raptou num lampejo de inveja. E como a manhã não amanheceu, também as almas não puderam deambular, e ficaram perdidas na escuridão. Pobres almas penadas... sem sol nem luz que as alumie são consumidas pelo medo. Muito gosta o medo do escuro, e por ironia, tem medo do sol e da luz. No entanto, todos somos muito mais impelidos pelo medo que pela confiança, talvez por termos medo de ter medo, ou talvez pelo medo ter medo que não tenhamos medo e ser monopolista. Talvez daí sermos criaturas auto-destrutivas... Não confiamos nem em nós, cremos nas ilusões que criamos apenas para nossa segurança. Quando nos apercebemos do que realmente somos distribuímos medo e ódio (grandes compinchas esses dois) por tudo quanto é sítio, medo de perder, medo de ser, medo de existir, medo de não existir, e consequentemente, ódio por aqueles que nos fazem perder, ódio por aqueles que nos fazem ser o que não queremos, ódio por aquelas alminhas penadas que existem sem saber que são podres e reles, ódio por sermos como elas e presumirmo-nos como melhores. No entanto, o ódio dá uma força e vontade inimaginável, qual dosagem de adrenalina. Somos muito mais comprometidos em destruir algo do que em cria-lo, preferimos deixar isso a quem de dever. E ao mesmo tempo, o desprezo dá um certo prazer, o poder renegar alguém coloca-nos no topo, no trono da hierarquia social concebida por nós. O ódio acaba por ser uma droga, cega-nos de qualquer lampejo de realidade e faz-nos sentir felizes de uma forma muito pouco saudável, e no entanto, somos lúcidos o suficiente para o repudiar, para continuar a aguardar a luz, o amanhecer, o toque de um raio que nos aqueça, que o orvalho que nos cobre a cara se evapore para que nos possamos mostrar ao mundo, nus, verdadeiros connosco mesmos. Somos criaturas imundas, agarramo-nos às coisas numa dependência que sabemos que não pode ser eterna, somos meros viciados: No ódio, na luz, em nós mesmos... na necessidade de existir para condenarmos a existência. Ah pobres almas, porque vagueais? Aquele cujo destino é certo não teme nem treme, mas o destino nunca é certo, não podemos chamar uma viagem a esta deambulação, naufragamos apenas, nunca atracamos. Onde vamos parar?
Ode ao Cagalhão que anda.
Cagalhão que te esperneias, porque te esperneias tu?
Porque tu, que és bosta, queres fugir deste mundo?
...
(resta saber porque não se sente integrado...)
Porque tu, que és bosta, queres fugir deste mundo?
...
(resta saber porque não se sente integrado...)
I - Exórdio
O Sol raiava na manhã como raiou em todas as manhãs, e a manhã, como um mero elemento proletário e pouco pensante, aceitava-o como óbvio e mantinha a sua rotina em função da ascenção do sujeito. Nessa manhã (e como em muitas outras) deambulavam almas pela Terra, pelos campos, pelas cidades, por becos escondidos e por esconderijos inimagináveis, qual armazém dum narcotraficante colombiano. Essas almas, como todas as almas, eram espelhadas por dentro e tinham uma luzinha brilhante, qual pirilampo com cio. Assim, todas elas apenas olhavam para elas como o seu sol, e viam nelas a luz como anjos iluminados ou demónios em redenção ascendente. Mal elas sabiam o que era a luz, ou as trevas, ou mesmo anjos e demónios. Afinal, se soubessem não eram almas deambulantes pela terra, estariam a 7 palmos dessa outra dimensão a que um dia tiveram direito. O que é o dom da vida senão um impulso eléctrico que mexe aquelas marionetas de carne, vísceras e osso que somos nós os humanos? Mas neste emaranhado de fios, nem sempre o mestre do fantoche se desevencelha, por vezes os fios cruzam-se, cortam-se, e por isso o teatro não consegue ser puro e singelo como é suposto ser o trabalho do Criador. Pois que, nesta ópera que é a mecânica do universo, a orquestra não se rege numa única harmonia, mas numa sinfonia dissonante, imperceptível mesmo para eruditos. E essas coisinhas deambulatórias, tão únicas fantásticas, e ao mesmo tempo tão podres e imorais, lá dançam essa dança dessincronizada, a pisarem-se, espezinharem-se umas às outras, ou em encontros súbitos de tirar o fôlego ao pobre pulmão apaixonado. Mas quando se dança uma música que não se percebe, mesmo a mais mundana das criaturas se pergunta "Porquê? Porque não consigo eu parar? Para quê dançar uma melodia sem fim?" Seremos nós criaturas inúteis na imensidão do universo? Provavelmente, só o tempo o dirá suponho, tempo esse que compassa a dança, tempo esse que também não compreendemos. Mas afinal, qual é a geometria da alma? No universo não existem rectas, portanto resta saber apenas se aquele espelho interior que insiste em que reparemos em nós, em que nos centralizemos, é concavo ou convexo, se nos quer engrandecer, ou se nos faz aperceber da nossa pequenez... Certo é que não é direito, e nunca saberemos quem somos ou o que somos, resta o olhar alheio, o assustador, enorme e aterrador olhar alheio. Amanhã o sol vai raiar, e iluminará as faces pálidas desses seres assustadiços, a luz é reconfortante, reconhecemos os contornos do que nos rodeia, podemos apontar como um aspersor da relva, afectamos toda a gente mecânicamente, sem nos apercebermos da nossa rotação. Não somos nós que giramos afinal, é tudo que gira a nossa volta, a verdade reside na perspectiva. Mas antes do sol raiar de novo, a escuridão virá, apenas veremos a imensidão e o vazio, queremos refugiar-nos pois são ambos assustadores, mas olhando para dentro também vemos uma imensidão abundante de vazio, procuramos a luz, o toque, uma maneira de ver sem os olhos, uma outra alma que nos apazigue. Muito procuram estas presumidas almas imundas, nada encontram senão o seu ego espelhado em sua volta, não são condenáveis por não saberem nada, ou pela sua imoralidade, mas sim por serem reles o suficiente para se acharem todo-superiores e ignorar o estremecer universal que se lhes impõe, mas quem as condena senão elas? Nascem deuses, nascem demónios, nascem como nada, e no entanto serão tudo. E morrerão como nada, reduzidos a pó e cinzas como é de dever. Deixa-las viver, deixa-las deambular...
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Encontros do 3º Grau
Hoje questionei-me, apercebendo-me que tenho primos em 2º grau em idade viril, se os seus filhos seriam aos meus olhos ET's por serem do 3º Grau. E pronto é só isto maníacos da ficção científica que lêem o meu blog (gosto de apelar às massas).
terça-feira, 28 de julho de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
L'enfer, c'est les autres
O ódio, o mais humano dos sentimentos, como antítese frustrada do amor, cúmulo do desejo doentio de umas hormonas eternizadas pelas musas clássicas como expressão máxima da estética sentimental. Pois será mais humano aquele que odeia a humanidade ou aquele que a ama? Aquele que se ama a si mesmo, ama a humanidade. Não por ser generoso de coração e ter que abunde para o seu ego e tudo o mais, mas porque o ego é um balão à frente dos nossos olhos, quão mais preenchido, menos vemos. Assim, aquele que se vê como ser perfeito, feliz, não pode consequentemente ver a miséria que o rodeia, pelo que tenta pinta-la, qual impressionismo manhoso, de forma alegre e despreocupada. Mas não melhor é o que se odeia a si mesmo, pelo que o egoísmo é igual, e o efeito é o mesmo, é que isto de amor e ódio, de bem e de mal, vai dar tudo ao mesmo. Talvez haja a pequena diferença de que o que se ama a si mesmo sente-se amado quando é odiado, e aquele que se odeia a si mesmo sente-se odiado quando é amado, nenhum deles se apercebe, a percepção que temos do mundo é virgem, a interpretação dela está conspurcada pela nossa mente, jamais objectiva ou virgem. A auto-análise é destrutiva, pelo que procuramos comparar-nos sempre a alguém, a quem já fomos, a quem queremos ser, àqueles que nos rodeiam... Nunca nos compreenderemos a nós nem nunca ninguém nos compreenderá, por isso temos tanto medo de conviver connosco, porque somos responsáveis pela nossa própria alma e sabemos que ela não é pura, mesmo sem conhecer a pureza. Talvez não seja suposto ser, talvez seja suposto ser assim, humana em todas as suas virtudes. E também por isso procuramos encontrar outras pessoas, conviver, alguém que se reveja em nós o suficiente para coleccionarmos fragmentos daquilo que estamos convictos de sermos nós mesmos, para nos conseguirmos definir em relação aos outros. E no entanto queremos crer que estão errados, não queremos ser compreendidos, pelo que nos sentimos expostos ao mundo, apenas queremos ser admirados pela nossa imagem fidedigna. Tudo o que fazemos é apenas um espectáculo de máscaras, para agradar aos outros, e fugir da crítica, da censura, da vergonha e do medo. Aquele que representa o mau da fita quer ser odiado porque odeia, e o anjo, chateia toda a gente pela sua perfeição desumana, todo o bem implica mal, pelo que são uma negação mútua.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Nevermind...
Eu quero ver, queria ver, com clareza e distinção, os eixos sobre o qual o universo se move, sob os quais se orienta e queria encontrar-me nessa organização celestial com uma rota establecida, orbital... eliptica... o que seja. Queria saber essa verdade hedionda que tanto me agoniza na sua dúvida e tanto me agonizará na sua resposta. Quero viver com a minha insignificância esclarecida e mais do que isso, quero conseguir aceitá-lo, feliz da vida feito palhaço ingénuo que sou. Quero conformar-me como roda dentada desta grande maquinaria e conseguir olear-me para que tudo seja mais harmonioso. Ver os coelhos a saltar, os pássaros a cantar não como o belo mas como o previsivel e mesmo assim achar-me digno. Queria ser uma máquina, deve ser o que sou suposto ser... senão sou disfuncional, consigo sentir coisas mas sou disfuncional. Quem quer afinal a minha felicidade, a minha tristeza, a minha vivência? Porque raio hei eu de ser útil para a mecânica do universo ao questioná-la? Enfim... já não quero nada disto, não sei o que quero... sei o que não quero: não sei bem quê.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Metafísica, ou não
Será que o hamburguer sente pelas múltiplas vacas e porcos que o formaram?
Será que o pó se questiona se anda à deriva ou se foi Deus quem o comandou?
Serão as fezes desperdício ou fonte de vida?
Será que pelo intestino delgado dar tantas voltas se lhe dá a volta ao estômago?
Será a Anôna melhor que o Inhame?
Será a couve mais laxante que o feijão?
Será que as unhas crescem para que as possamos roer como complemento nutritivo?
Será que a relva aponta toda para cima numa conspiração contra os pássaros que a sobrevoam?
Será que a lâmpada apaga quando acende e acende quando apaga?
Será que vemos todos a mesma coisa ou os cagalhões são fúscia?
O meu vizinho é mesmo incómodo ou nem sequer existe?
Os pássaros voam ou estão apenas limitados a um chão maior?
Os meus olhos fecham ou estou a ver o infinito?
Será que os computadores conspiram em levar-nos à loucura com imprecisões informáticas?
Será que fomos criados e formatados por seres extra-terrestres duma dimensão superior?
Porque raio pergunto esta coisa toda? Como ela diria, "Porque és estúpido"...
Será que o pó se questiona se anda à deriva ou se foi Deus quem o comandou?
Serão as fezes desperdício ou fonte de vida?
Será que pelo intestino delgado dar tantas voltas se lhe dá a volta ao estômago?
Será a Anôna melhor que o Inhame?
Será a couve mais laxante que o feijão?
Será que as unhas crescem para que as possamos roer como complemento nutritivo?
Será que a relva aponta toda para cima numa conspiração contra os pássaros que a sobrevoam?
Será que a lâmpada apaga quando acende e acende quando apaga?
Será que vemos todos a mesma coisa ou os cagalhões são fúscia?
O meu vizinho é mesmo incómodo ou nem sequer existe?
Os pássaros voam ou estão apenas limitados a um chão maior?
Os meus olhos fecham ou estou a ver o infinito?
Será que os computadores conspiram em levar-nos à loucura com imprecisões informáticas?
Será que fomos criados e formatados por seres extra-terrestres duma dimensão superior?
Porque raio pergunto esta coisa toda? Como ela diria, "Porque és estúpido"...
sábado, 20 de junho de 2009
Aequilibrium
Spinning and Spinning around
Moons spininng on planets,
planets spinning on stars,
Stars spinning on black holes,
Black holes spinning in a vortex of entropy.
Darkness consumes the light,
Yet it blasts into sunbursting light.
If stars are endless,
Why shouldn't void be white?
If darkness is eternal,
Why shouldn't void be black?
Cause it's void and we're not,
We don't belong white neither black
We don't belong nothing neither everything,
They don't exist,
Universe shall be in tones of grey,
As infinity and void
are beyond the natural order,
And yet they rule the balance
between existence and non-existence,
Once we are void, we know infinty...
Moons spininng on planets,
planets spinning on stars,
Stars spinning on black holes,
Black holes spinning in a vortex of entropy.
Darkness consumes the light,
Yet it blasts into sunbursting light.
If stars are endless,
Why shouldn't void be white?
If darkness is eternal,
Why shouldn't void be black?
Cause it's void and we're not,
We don't belong white neither black
We don't belong nothing neither everything,
They don't exist,
Universe shall be in tones of grey,
As infinity and void
are beyond the natural order,
And yet they rule the balance
between existence and non-existence,
Once we are void, we know infinty...
sexta-feira, 19 de junho de 2009
A Chore for the Lost
Ora, como é in meter músicas no blog também o farei, se alguém não gostar que comente, já é qualquer coisa.
Deathspell Omega - A Chore for the Lost
(de referir que esta música me dá orgasmos múltiplos ou o mais próximo que hei de ter disso)
Deathspell Omega - A Chore for the Lost
(de referir que esta música me dá orgasmos múltiplos ou o mais próximo que hei de ter disso)
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Extrait des Chants de Maldoror
"De la même manière que nous nous sentons en marge et au-dessus d'un monde que nous voulons annihiler, les anciens sorciers furent les révolutionnaires du passé.
Comme nous détestons nos congénères béotiens et américanisés eux aussi détestaient le prêtre, le roi, le riche.
Eux aussi, préparaient en ces occultes cérémonies les bombes des maléfices.
Ils empoisonnaient surtout, détruisaient cependant avec plus d'ampleur, savaient répandre dans les campagnes la poudre qui tue les moissons, ensevelir sous les érables, la charge magique dont les troupeaux dépérissent.
Et ils s'en prirent surtout à la tendre race des enfants, celle qui, ne gardant pas les crapauds à refusé l'initiation, décimèrent plus radicalement, plus religieusement que les anarchistes modernes, frappèrent la race avant tout, partout, sachant que, quoique fasse l'Homme, il sera toujours l'Homme, le vil, l'égoïste, le déprédateur du patrimoine d'autrui, la honte du monde, la honte du monde.
Cela devenait pour eux un but mystique de débarrasser l'univers de cette lèpre humaine, gagnant la bonne nature, corrompant la Terre faite pour être libre et qui s'avilit d'être l'esclave nourrice."
Ode à dinastia.
Chegou ao fim o seu reinado, glorioso, a época dourada do reino. Encheram de orgulho todos os seus súbditos e superiores, proporcional à sua glória só mesmo o seu ego, aquilo que fizeram é notório, e talvez por isso os outros apenas notaram de olhos arregalados, felizes, mas quietos, à espera que a situação fosse eterna. Agora que os paladinos abandonaram o povo, o povo fica desamparado como sempre ficou e ficará, à espera da chegada de alguém novo que os comande e entretenha. O exílio dos velhos traz o reinado dos novos, que legitimamente hão de usurpar o trono daqueles que tanto admiravam, e cobiçavam, estão agora no topo, regozijando-se do seu título, mas não sabiam eles quando estavam lá em baixo, que chegando ao cimo da torre teriam vertigens. Terão de começar do zero, pois o ego dos seus anteriores não lhes permitira transmitir o legado, era deles e só deles, e mais ninguém era digno. Pois que agora o reino se encontra numa anarquia apática, em que ninguém se interessa pela glória, pela realização de algo, mas apenas pelo cumprimento de dever. Comandar é uma obrigação que será feita com o mínimo entusiasmo, pois não são lideres, mas soldados rasos, à espera de iluminação, os que estão no poder.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
L'Amour, la mort...
A solidão invade a alma, solidão encava-se nas entranhas, come-nos as visceras, regurgita-as causando o desespero, a nossa mente quer parar, ignorar, no entanto a angústia que se sente lacinantemente a cada momento impede-nos de sermos racionais, somos agora animais de um instinto abissal procuramos o abismo, não para cair nele e desaparecer na vasta imensidão negra do desconhecido, mas para sentirmos a adrenalina de estar no limite, o desespero a corromper-nos, o medo a controlar cada músculo do nosso corpo até sucumbirmos, sentimos todos os desejos carnais, a sede, a fome, a necessidade de prazer, vemos tudo difuso, imagens de carnificina, imagens de desolação, orgias levianas e podres... Até que desfalecemos, o medo, a agústia, o desespero, venceram, aquela funesta jornada carnal acabou, o abismo caiu connosco e voltamos à estaca zero, deambulamos de novo à procura de uma saída, à procura de um escape a todo o sofrimento, e no entanto não nos apercebemos que é essa procura o sofrimento, essa sede de uma solução, esse desejo latinante para encontrar uma resposta, um final feliz, uma verdade reconfortante que nos afaste do abismo. É essa procura de uma saída do labirinto abissal que nos faz cair no abismo, devemos permanecer na nossa existência animal, carnal, irracional, procurar o prazer pelo que é, e assim não sofremos, não sentimos, simplesmente vivemos, sobrevivemos, a nossa missão fica cumprida, a de cumprir uma pena terrena do nascimento à morte, morte essa que é a saída final, não dá a resposta e no entanto cessa a procura, cessa tudo, a não-existência torna o mundo igualmente inexistente. E no entanto, queremos a imortalidade, queremos a eterna deambulação pelo mundo, sempre à beira do abismo, no desespero, simplesmente porque sabemos o que é este estado, terreno, e não sabemos nem nunca saberemos qual é o próximo, o que acontece, o que é morrer...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
no-exit
Sem saída, vemo-nos pressionados por todos os lados todos os dias a toda a hora, temos de ceder à pressão se queremos sobreviver, no entanto não a podemos deixar esmagar, senão deixamos de existir. Temos de pertencer, temos de coagir com a pressão social, não podemos de deixar de ser aquilo que somos, seres comunitários, e no entanto queremos também deixar claro que somos um individuo e não uma célula, somos independentes, únicos, e portanto queremos ser diferentes, queremos afirmarmo-nos, precisamos de ser melhores que os outros, e ao mesmo tempo precisamos de ser como eles. Sem eles não vivemos, não existimos, somos seres sociais, e no entanto, a igualdade é repugnante, clones a caminharem sob o mesmo estandarte social, a caminhar para o vazio de mente vazia. Mas no fundo, é isso a sobrevivência, precisamos da sociedade, só evoluimos por nos associarmos em grupo. E no entanto as ideias surgem só no individuo, a partilha delas cria o progresso, e ao mesmo tempo a contorvérsia, torna-se um marginal social, desobdeceu a uma norma. Talvez se afirme, talvez tenha razão, mas o que interessa no fim? Ele não passa de uma célula que não se conforma, que ou é eliminada, ou é convertida. No entanto é necessária a revolta, é necessária a diferença, é necessária acima de tudo a identidade.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Entropia
Caminhamos para o fim, para a aniquilação da espécie, porém, inconscientes perdemo-nos em devaneios se essa perda será valerosa ou não, para quem? Temos a tendência de criar divindades, entidades exteriores, etc. para o nosso conforto, afinal é muito mais fácil existir se essa responsabilidade não for nossa. Mas não existe nada senão o individuo, o individuo é dono de si e da sua vontade, comanda as suas acções, e por conseguinte os seus efeitos, no entanto, somos demasiado complexos para nos reduzirmos a isso, um individuo pode ser um grupo, e quanto maior esse individuo, mair a sua influência e as repercussões das nossas acções, temos um fim, sabemos, no entanto, combatemos ingloriamente esse fim, queremos a imortalidade e no entanto não a conhecemos. Talvez os mesmos devaneios em que nos sobrevalorizamos e em que criamos entidades para tomar conta de nós, nos façam também crer que o fim é evitável, que a morte do ser colectivo que é a humanidade é evitável, no entanto, quanto mais nos apróximamos da resposta mais apodrecemos por dentro, mais nos perdemos dentro de nós, o individuo, a raça humana, não é coesa nem equilibrada, o elitismo faz com que apenas alguns se salvem, temos a tendencia para hierarquizar as coisas, há sempre um melhor e um pior, a nossa racionalidade torna-nos irracionais pois confere-nos subjectividade e poder. Temos assim o poder para nos distinguirmos, para nos segregarmos, para nos considerarmos superiores, e é o que se sucede, todos temos a tendencia de ao mesmo tempo nos tornar o melhor e o pior, somos o exemplo, pois procuramos sempre alguem como nós, e no entanto, somos a podridão a fonte interminável de defeitos, pelo que o real não é perfeito, mas sim caótico. Nada no universo se repete efectivamente, nem o movimento de um electrão é predictivem, nem o de um planeta, nem o do universo, queremos organizar o universo, estruturá-lo, sistematiza-lo e no entanto todo ele é feito de caos, nascemos do caos e morreremos no caos, a impresibilidade torna-nos o conhecimento supremo impossível e ao mesmo tempo aumenta-nos o conhecimento pois há sempre algo novo a acontecer na mecanica issistemática do universo. Aproximamo-nos do fim, aproximamo-nos da resposta, e no entanto não chegamos lá, não é suposto chegarmos, ela não existe, é caos.
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