sábado, 26 de março de 2011

A

E subitamente ela está ali, especada na minha mente a tentar ler um grande vazio de pó e teias que se acumulou. Correm e acudem depressa, atropelando-se e cavalgando-se, torrentes de palavras de amor e ódio e introspecção e tudo o que o caiba no desespero da aprovação, para que ela espeque apenas mais um momento, para que se congele esse fragmento de tempo em que ela se encontra especada na minha mente. É uma musa acidental, que veio aqui desflorar por caminhos sinuosos que o destino ou os milhões de acasos quiseram traçar, só para especar na minha mente, e me ler, no cru e no puro, sem as interferências ludibriosas que a boca profere.
E se a fonte era cíclica e avassaladora, já não o é. Acumulou lixos. Dessas interferências ruidosas que se espalham como pragas para distrair o intelecto. Entopiu, cessou, não encontrou por onde desviar, mais por cansaço do que por falta de via. E afinal, escrevia para ela, vejo isso agora. Escrevia para mim e ela estava em mim, por me ler. E por ela estar ali, atenta e sôfrega for mais palavras, num consumo vicioso e canibalesco de intelectos e pedaços de carne podre emaranhados, a corrente tornou-se de novo triunfante e cavalgante, irrompe agora pela estática tortuosa que me envolvia num antro de procrastinação.
Obrigado.