sábado, 29 de agosto de 2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ceia Natalícia fora de horas

A couve foi ao supermercado comprar bacalhau, o bacalhau, que veio a nado, estava salgado e cansado. A couve ficou aborrecida com o estado do bacalhau e disse "Espera aí que já vês o que é que é molho", e assim demolhou-o. Depois disso, o bacalhau chamou os amigos e houve batatada. A couve precisou de ser cozida coitada. Para a coisa acabar em beleza, resta saber que se ficou tudo a esfregar feitos azeiteiros.

Estática

Estático,
Parado,
Atónito,
Indiferente,
Passa a morte, passa Deus, passa o Diabo e passa toda a criação divina,
E os olhos fixos no vazio, num ponto indefinido,
Estúpido,
Reles,
insignificante.

Ecos cósmicos,
Uma profunda estática,
E por baixo, um ruído:
As vozes do Mundo.
Bradavam alto,
Cantavam num tom pomposo de galo.
E no entanto, eram um mero ruído,
Desprezível,
Desprezável,
Playback duma voz rouca e sofrida,
Que berra por misericórdia,
Pela dor, pelo medo...

Alice in Wonderland

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

II - O eclipse

Nesse dia, o sol não raiou. Talvez tenha ficado quieto por inércia, talvez se tenha deixado adormecer, talvez esteja com a mão no queixo a mirar o horizonte enquanto sonha com as suas façanhas e as da sua amada... Certo é que a manhã também estranhou, coitada. Não pode trabalhar, e apercebeu-se assim, num lampejo de escuridão, de toda a sua ignorância. Toda a vida amanhecera, e, subitamente, não pôde amanhecer. Pensou ela em tudo o que podia ter aprendido ou feito na vida, agora já não sentiria tanto a falta do sol, mas ele, não estava, não quis aparecer, ou alguma estrela maior o raptou num lampejo de inveja. E como a manhã não amanheceu, também as almas não puderam deambular, e ficaram perdidas na escuridão. Pobres almas penadas... sem sol nem luz que as alumie são consumidas pelo medo. Muito gosta o medo do escuro, e por ironia, tem medo do sol e da luz. No entanto, todos somos muito mais impelidos pelo medo que pela confiança, talvez por termos medo de ter medo, ou talvez pelo medo ter medo que não tenhamos medo e ser monopolista. Talvez daí sermos criaturas auto-destrutivas... Não confiamos nem em nós, cremos nas ilusões que criamos apenas para nossa segurança. Quando nos apercebemos do que realmente somos distribuímos medo e ódio (grandes compinchas esses dois) por tudo quanto é sítio, medo de perder, medo de ser, medo de existir, medo de não existir, e consequentemente, ódio por aqueles que nos fazem perder, ódio por aqueles que nos fazem ser o que não queremos, ódio por aquelas alminhas penadas que existem sem saber que são podres e reles, ódio por sermos como elas e presumirmo-nos como melhores. No entanto, o ódio dá uma força e vontade inimaginável, qual dosagem de adrenalina. Somos muito mais comprometidos em destruir algo do que em cria-lo, preferimos deixar isso a quem de dever. E ao mesmo tempo, o desprezo dá um certo prazer, o poder renegar alguém coloca-nos no topo, no trono da hierarquia social concebida por nós. O ódio acaba por ser uma droga, cega-nos de qualquer lampejo de realidade e faz-nos sentir felizes de uma forma muito pouco saudável, e no entanto, somos lúcidos o suficiente para o repudiar, para continuar a aguardar a luz, o amanhecer, o toque de um raio que nos aqueça, que o orvalho que nos cobre a cara se evapore para que nos possamos mostrar ao mundo, nus, verdadeiros connosco mesmos. Somos criaturas imundas, agarramo-nos às coisas numa dependência que sabemos que não pode ser eterna, somos meros viciados: No ódio, na luz, em nós mesmos... na necessidade de existir para condenarmos a existência. Ah pobres almas, porque vagueais? Aquele cujo destino é certo não teme nem treme, mas o destino nunca é certo, não podemos chamar uma viagem a esta deambulação, naufragamos apenas, nunca atracamos. Onde vamos parar?

Ode ao Cagalhão que anda.

Cagalhão que te esperneias, porque te esperneias tu?
Porque tu, que és bosta, queres fugir deste mundo?

...

(resta saber porque não se sente integrado...)

I - Exórdio

O Sol raiava na manhã como raiou em todas as manhãs, e a manhã, como um mero elemento proletário e pouco pensante, aceitava-o como óbvio e mantinha a sua rotina em função da ascenção do sujeito. Nessa manhã (e como em muitas outras) deambulavam almas pela Terra, pelos campos, pelas cidades, por becos escondidos e por esconderijos inimagináveis, qual armazém dum narcotraficante colombiano. Essas almas, como todas as almas, eram espelhadas por dentro e tinham uma luzinha brilhante, qual pirilampo com cio. Assim, todas elas apenas olhavam para elas como o seu sol, e viam nelas a luz como anjos iluminados ou demónios em redenção ascendente. Mal elas sabiam o que era a luz, ou as trevas, ou mesmo anjos e demónios. Afinal, se soubessem não eram almas deambulantes pela terra, estariam a 7 palmos dessa outra dimensão a que um dia tiveram direito. O que é o dom da vida senão um impulso eléctrico que mexe aquelas marionetas de carne, vísceras e osso que somos nós os humanos? Mas neste emaranhado de fios, nem sempre o mestre do fantoche se desevencelha, por vezes os fios cruzam-se, cortam-se, e por isso o teatro não consegue ser puro e singelo como é suposto ser o trabalho do Criador. Pois que, nesta ópera que é a mecânica do universo, a orquestra não se rege numa única harmonia, mas numa sinfonia dissonante, imperceptível mesmo para eruditos. E essas coisinhas deambulatórias, tão únicas fantásticas, e ao mesmo tempo tão podres e imorais, lá dançam essa dança dessincronizada, a pisarem-se, espezinharem-se umas às outras, ou em encontros súbitos de tirar o fôlego ao pobre pulmão apaixonado. Mas quando se dança uma música que não se percebe, mesmo a mais mundana das criaturas se pergunta "Porquê? Porque não consigo eu parar? Para quê dançar uma melodia sem fim?" Seremos nós criaturas inúteis na imensidão do universo? Provavelmente, só o tempo o dirá suponho, tempo esse que compassa a dança, tempo esse que também não compreendemos. Mas afinal, qual é a geometria da alma? No universo não existem rectas, portanto resta saber apenas se aquele espelho interior que insiste em que reparemos em nós, em que nos centralizemos, é concavo ou convexo, se nos quer engrandecer, ou se nos faz aperceber da nossa pequenez... Certo é que não é direito, e nunca saberemos quem somos ou o que somos, resta o olhar alheio, o assustador, enorme e aterrador olhar alheio. Amanhã o sol vai raiar, e iluminará as faces pálidas desses seres assustadiços, a luz é reconfortante, reconhecemos os contornos do que nos rodeia, podemos apontar como um aspersor da relva, afectamos toda a gente mecânicamente, sem nos apercebermos da nossa rotação. Não somos nós que giramos afinal, é tudo que gira a nossa volta, a verdade reside na perspectiva. Mas antes do sol raiar de novo, a escuridão virá, apenas veremos a imensidão e o vazio, queremos refugiar-nos pois são ambos assustadores, mas olhando para dentro também vemos uma imensidão abundante de vazio, procuramos a luz, o toque, uma maneira de ver sem os olhos, uma outra alma que nos apazigue. Muito procuram estas presumidas almas imundas, nada encontram senão o seu ego espelhado em sua volta, não são condenáveis por não saberem nada, ou pela sua imoralidade, mas sim por serem reles o suficiente para se acharem todo-superiores e ignorar o estremecer universal que se lhes impõe, mas quem as condena senão elas? Nascem deuses, nascem demónios, nascem como nada, e no entanto serão tudo. E morrerão como nada, reduzidos a pó e cinzas como é de dever. Deixa-las viver, deixa-las deambular...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Encontros do 3º Grau

Hoje questionei-me, apercebendo-me que tenho primos em 2º grau em idade viril, se os seus filhos seriam aos meus olhos ET's por serem do 3º Grau. E pronto é só isto maníacos da ficção científica que lêem o meu blog (gosto de apelar às massas).