domingo, 21 de novembro de 2010

We live!

Nada de facto morre, porque nada de facto existe, tudo se compõe e decompõe em exercícios criativos e experimentais duma qualquer entidade divina. Tudo vem da mesma terra, pó e cinza, da mesma lama primordial, da mesma carne e osso dos antepassados. A reciclagem do corpo e da alma é eterna cíclica e evolutiva. Tudo reencarna, as águas, as rochas, os vermes, as massas, as palavras, os sentimentos. A criatividade não existe senão na re-organização de peças gastas podres e repetidas. Deixa que os mecanismos rodem sobre si consumindo-se eternamente.
Teias de aranha no antro principal, nada entra, tudo sai.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Revelação chocante: O cagalhão não tem pernas

Se tivesse, sabia nadar e não eram precisos autoclismos.
Duh

Enxurradas

São o máximo porque aparece a minha professora de português do 9º ano a dizer "morreram-me as galinhas inundadas"

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Face the pieces of your broken mirror.

Que o silêncio invertido regurgitado do aço e do betão freneticamente te torture em espasmos obzequiéticos de prazer sádico. Que te multiplique em convulsões dos muitos que são tu. Rasga a garganta em tiras de seda luxuriosa, tecida pelos reles vermes que te consomem. Pára de te consumir, seu capitalista dependente, estás gasto e repetido, re-inventa-te ou morre ou consome alguém! Estás podre e fora de prazo, escondes-te e rejeitas-te à espera que alguém te ilumine a doce alma, a mesma que vendeste ao vento só porque soprava para casa. Não sabes de ti nem da tua casa, não sabes de nada se não do vazio e do vácuo que te rodeiam, uns escassos palmos que te isolam dum mundo que se isola de ti. Foge mas é daqui para fora, foge às tuas trevas, queima-te na luz e desintegra-te em mil borboletas das larvas que te corroeram.

Let it Pour, let it pour.

Ninguém há de compreender ninguém porque somos todos o mesmo. Não te quero compreender porque isso significa acatar com mais uma dor diferente da minha, e sou egoísta e amedrontado demais para isso. Não te quero compreender porque sei que te vou achar maior que a mim, e que me vou sentir mal. Não te quero compreender porque te vais tornar previsível e dispensável. Não quero deixar de saber olhar para ti. Não quero saber nada de nada de ti nem de ninguém. Que tudo chegue como deve chegar, sem subterfúgios maliciosos, há menos do que o que vemos nas coisas se todos virmos o mesmo. Não nos contentamos com a simplicidade do mundo, é de menos para a complexidade orgulhosa do nosso ego. Tudo o que foi dito está dito, tudo o que foi feito, está feito, nada se perde nem nada se ganha, o tempo passa.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Where are you now?

Give her wings
And her dreams
Will soon turn
Into gold

'Cause she'll fly high
And in the sky lies
Another rainbow
That she sold

And if the wind blows
She's just flying low
And you may bliss
with her kiss.

And through your heart and soul
Something strange will flow
You want to tell her
But she's gone.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

paradoxos polares

Tudo o que vejo é tudo quanto há.
Se existe mundo para além de mim então eu não existo.
A minha não existência exterior não pode co-existir com a minha existência.
Eu sou o que crio e nada do que crio é criado por mim. Como um todo sou a soma das minhas partes e as minhas partes não me pertencem, apenas existo enquanto combinação única de partes partilhadas, estou longe de ter alguma coisa de único, estou ainda mais longe de não o ser.
Eu sou muitos e eles não se dão bem, pelas manifestações bélicas comunico, exibindo bem alto os estandartes de um super-ego que está mais que consumido pela peste, pela fome e pela doença, a apodrecer algures numa trincheira enlameada à espera que a gangrena o mande para casa. Manifesto o ódio como forma auto-presumida de superioridade como se de facto a antítese à miséria salvasse da miséria em si. A única salvação da miséria e relidade é não estar ciente de que esta existe, assim que se percepciona miséria, é-se miséria. Assim, a suprema elevação moral num pedestal de puritanismo apenas acelera o processo hipócrita de corrupção desse inner-sanctum mesclado dum dualismo qualquer blasfemo. Afinal a existência de um anti é por si só deplorável e no entanto, tudo encontra emparelhamento espelhado numa simetria abismalmente transversal à existência perspectivada. Se tudo se equilibra entre polos não vejo porque a moral e a ética se devem suportar apenas num. Se o humano não é bom por natureza não vejo porque devemos contrariar tais manifestações do mal. Deveria-se codificar e regulamentar o mal como regulamentamos o bem. Criar-se-ia uma oposição polar deveras fascinante, entre duas anarquias e duas oligarquias, umas do bem e outras do mal. Oligarquia é submissão e submissão é correcto, liberdade é errado, anarquia é liberdade, anarquia é errado. Suprimir desejos de liberdade e manifestações de natureza má causa distúrbios psicológicos. As pessoas são perturbadas. Os loucos são vítimas da inocência de submissão ao moralismo, e por essa vitimização são presas naquilo que se torna a única forma autêntica de liberdade. Mate-se e viva-se, odeie-se e ame-se, pois a isolação de apenas um implica o anulamento de ambos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Blind Sight

See them dancing,
See them spinning around,
And leave you spellbound,
To the charm and to the magic
Of secrets you hide in the attick.

See life and see death,
Leading a path o Lead,
So heavy you can't fall
So slippery you can't crawl.

See the masks and the lies,
and the lies and the secrets,
and the secrets of people
who so abusely use
their masks to lie,
their lies to hide,
and their secrets to die.

See the beauty and the beast,
both within yourself.
See them drinking your youth
feeding on the angusty of self.

Fall into oblivion,
And rise to consicous.
Stare onto deaths face,
and laugh.
Tenho a garganta seca.
Preciso de água.
Tenho comichão na mão esquerda e no inverso do cotovelo do respectivo braço.
Tenho comichão noutros sítios, acho que o facto de escrever comichão sugere comichão e por isso fico muito comichoso. Estou deveras comichoso, estou prestes a entrar em colapso por não parar de escrever para me coçar. Dói-me o olho direito, devo ter lixo nas lentes de contacto. Estou a sentir a minha pulsação nos braços e a garganta encravada.

Possa que isto é giro.

domingo, 16 de maio de 2010

The End

As pessoas estão a desaparecer desta vida... Estão cada vez menos pessoas, menos humanos. Muitos dirão que temem as máquinas que havemos de criar, mas não se apercebem que eles mesmos se estão a transformar em objectos, frios, insensíveis e mecânicos. E é com profunda melancolia que me auto-anuncio o óbvio. A pureza está a desaparecer das almas humanas. A estética da existência provou tornar-se num profundo grotesco de selvagidade, em que todos se comem, todos se usam, todos procriam, e não fazem uso da memória, com medo que esta apele à já reles consciência. Já ninguém sequer sofre verdadeiramente, já não dói existir, dói aquilo que a caixinha de formatação diz que é suposto doer, e é suposto doer não ser considerada a maior rameira que há por aí. Aquele que não se vende não tem direito a entrar no mercado sujo, badalhoco, asqueroso, nojento da procriação ciclicamente assistida. É o preço da popularidade e sucesso social projectado. Mas que importa? Quem se importa? Todos tiram partido, são todos interesseiros, uns admitem que são porcos e vivem felizes, outros escondem-se a si mesmos que são porcos e vivem felizes, e a maioria nem sequer tem consciência de que são porcos. E depois, lêem estas katharsis de casa de banho e dizem todos que sim senhor, que os outros são porcos. Ninguém me leve a mal, mas o porco até é um animal bem sucedido, come tudo, engorda com felicidade e não se importa de viver numa pocilga. Quando chega à matança, estão todos lá, para receber o seu quinhão, seja uma costeleta, um presunto, bacon, banha, tripas, tiram-lhe tudo, ao pobre do animal só fica descansada a alma que já foi para outro sítio melhor. Todos dirão que foi um bom porco, que gostavam muito do porco, e que é uma pena terem de matar o porco, mas claro, só falam depois de enfardar, imersos numa atmosfera gaseosa dos digeridos de porco. Provavelmente tem sido sempre assim, as consciências é que demoram mais tempo a despertar agora.
A sanidade é uma ilusão criada pelos delusionismos da insanidade que é viver em medo constante da morte.

sábado, 8 de maio de 2010

I want to be human
I want...
Tapa os ouvidos e fica no mais íntimo silêncio. Deixa que o palpitar das tuas veias e o ranger das tuas articulações te perturbem. E depois sai, e ouve o mundo todo.
Vais ter medo,
vais querer fugir,
vais querer parar de sentir,
vais querer berrar para só a ti te ouvires,
vais enlouquecer,
vais alucinar,
vais matar,
vais estoirar os miolos.

Não és mais humano,
não tens de ouvir.

Drawning, sinking, rising to end.
Eat my flesh, devour my sin,
Wing my bones and let me fly,
Sear me, scar me, make me yours
Love me, leave me, cry away
My blood keep, you'll have to stay

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Shining

Um brilho qualquer, pálido e insípido, ilumina o teu corpo, igualmente pálido e insípido, escultural, jazido num fluir majestoso de sangue. Penetras, incessantemente o peito, e nesse acto sórdido e mórbido de prazer vês na lâmina, esse espelho tão vertiginosamente agudo, a tua cara de sofrimento a culminar, com um som ou mero sopro onde se indistingue um gemido e um grito de horror, num orgasmo ou uma coisa qualquer indescritível, um momento de inconsciência e de revelação em que te fazem cócegas nos neurónios e confundem as sinapses até rebentares numa overdose electrostática que se propaga até às mais sombrias cavidades e ínfimos interstícios. E rodas e voltas a espetar a faca enquanto te corre consciência pelas veias dilaceradas, num acto contínuo e masturbatório até que tussas essanguetada o teu último fôlego. E é nesse momento que te perpetuas, nua e mórbida sob o frio esbafeado duma lâmpada intermitente, o ruído eléctrico e das traças frenziadas nunca te pareceu tão intenso, tão macabro e austero. E vês o sangue a escorrer como uma nascente e a brilhar num espelho vermelho e apaixonado da tua triste e sinuosa figura. Vês trepidamente os teus olhos a tremer, as lágrimas a escorrer diluindo-se no vermelho sem fim, sorris, as paredes negras do vazio abatem-se sobre ti, perdeste-te.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Odeio-te por veres o mesmo mundo que eu e estares apaixonada por ele.
Odeio-te por no silêncio dizeres mais de ti que sabes,
Odeio-te por veres mais a nascer que a morrer,
Odeio-te por que és feliz e me alumias a alma, tão suja que só a tua luz o mostra.
Odeio-te porque não existes mais que aqui
Odeio-me porque te odeio
Odeio-te porque te amo,
Odeio-me por não poder.

domingo, 14 de março de 2010

Se algum dia apareceres, foge para longe, Se existires, tenta morrer ou esquecer. Se te procurarem, não te dês, Se procurares alguém, pára. É Inútil. Quando vires nojo, ódio e podridão à tua volta,
não estranhes, é sinal que as coisas estão como devem. Ninguém gosta de ti nem de ninguém, Deus abandonou-te e abandonou-se, desistiu de existir. Não há nada senão este lugar ermo e podre e outros lugares ermos e podres. Tens medo, muito medo, avisaram-te que ia ser assim, Mas nunca percebeste. Agora percebes. Percebes o que é ver a tua alma despedaçar-se como lepra em frente a um espelho, Percebes o que é pavoneares-te na rua como carne num talho, à espera de ser fatiada e devorada. Agarraste àquilo que tens, à vontade de te agarrares a alguma coisa. És, ou pelo menos foste, demasiado pura para estar neste mundo. Já não és, Já te devoraram, Já te violaram, és mais um produto dessa qualquer coisa rastejante, mucosa e regurgitada. Desculpa.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A ratazana

Um grito ou um urro qualquer gutural ressoa, húmido, nojento e asqueroso, como que vindo dum cano de esgoto, ritmado pelo bater das pingas e o ruído das ratazanas, esses bichos curiosos, filhos do infortúnio, que nada fizeram senão dar-se gratas por ter tudo do que é reles, nojento, putrefacto e comestível. E nesses guinchos de ódio milenar ganham o fervor e a vontade de vingar já nem sabem o quê. Não querem saber, não devem saber, não podem saber. Não podem saber que são a praga, para que possam ser a praga. Têm de marchar, como hostes enfurecidas e desvairadas de canibalismo amontoado da mais nojenta perversão e atacar. Atacar, consumir, regurgitar, defecar, infectar e violar tudo quanto lhes apareça pela frente.

No subsolo, na base e na cave escura de uma qualquer coisa funcional vive sempre uma outra coisa desenfreadamente disfuncional e irracional, que se alimenta de tudo quanto é despejado, recalcado e excretado pelos outros, os outros belos, os outros sublimes, os outros que de nada escumalha têm, pois deitam a essa escumalha que repisam toda a sua escumalhisse bruta e deslavada. E por baixo dessa escumalha, há uma outra escumalha mais escumalhosa, e por debaixo dessa, uma outra, e assim por diante. Essa bela humanidade há de ser consumida pelos abutres da sua própria natureza, e os abutres pelos ratos, os ratos pelos vermes, os vermes por mais vermes, e esses por fungos e demais coisas macabras e nojentas. A beleza e a funcionalidade organizacional sustentam-se no equilíbrio, mas os demais que que equilibram a pirâmide no seu vértice hão de tombar, e tudo se desmoronará, deixando nada mas a ralé e a escumalha de sobra, a que vive das sombras, da ruína e do cadáver.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lógica

Hoje estou com vontade de postar, mandar postas, bater contra um poste ou qualquer coisa assim. Como não há bacalhau (e isto é mais triste do que parece) nem tenho postes dentro de casa (há quem tenha sinais de trânsito, portanto a possibilidade de haver um poste dentro de casa não parece tão remota) lá tive de postar.
E subitamente, nesta urgência de postar, surgiu-me na cabeça "poio". Todo este blog é cocó fresquinho afinal. Mas depois pensei, se poio é cocó, aquilo que não é ou se vê ausente de cocó é apoio. Sendo que apoio em francês é soutien, soutien é tudo aquilo que não tem cocó, e daqui pude finalmente deduzir que mamas são boas.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Manifesto Ex Nihilo

Os olhos estalam-me e piscam prequelitantemente
Numa abuia ao revolucionário objecto ocular.
Aquele que nada novo me faz ver
e do velho só mostra as entranhas, revolvidas e putrefactas
que cavalgante e loucamente impulsionam e propulsam o sangue.
O visceroso, fervoroso e mucoso líquido escarlate.
O sangue de toda a besta humana,
de toda a paixão, guerra, vingança e matança preguiçosa,
o sangue da seringa que te viola toda a inocência e toda a pureza em cada poro
O sangue que te ebule e te mata a consciência.
O pulsar jusante de vida que impulsiona esse vómito e esse nojo para toda esta panóplia grotesca de sensações abjectas.

Sim, a futilidade do eu, do tu e do vós.
Ah, tanta alta metafísica e elaborada religiosidade,
Tanta tecnocracia e industrialidade.
"Tudo existe porque tudo provamos,
tudo provamos porque o tudo queremos,
o tudo é tudo porque sempre fui e há de ser tudo,
e somos tudo porque criamos o tudo"

Escorre-vos medo pelas cavidades,
Medo de que toda a bela criação, evolução, progressão e deificação se suma num suspiro,
Medo que se dissolva num vórtice de entropia tomando por mero absurdismo entretinente toda a vossa acção deliberada no propósito abissal.
Que se arraste sem que vos arraste a vós para o abismo da verdade e vontade metamorfa,
que tão bem se engana como engana a vós na sua indubitavelmente dúbia inexistência.

E acordas, ofegante, suado, delirante.
Afogas-te na tua loucura porque a desejaste.
Desde a precária e desmesurada génese teotécnica que ardes
Ardes no desejo, no amor e na paixão,
Ardes na blasfema tentação de te tentares pela blasfémia,
Ardes por arder na monumentalidade da pira noctívaga.
Combustas nas tuas reles e macabras dúvidas
e voltas a drogar a máquina.

A máquina das rodas dentadas que te mastigam ruminam e regurgitam,
Dos êmbolos que te violam, cíclica e pendularmente com o bater e respirar maquinal de uma fera sedenta e raivosa.
A máquina dos intermináveis indetermináveis erros de seriação e provocação.
Os magistrais e ancestrais eixos da universalidade sustentada,
Os que erguem bem alto a cortina intoxicante e dolorosa,
A do toque acetinado que te acaricia intolerantemente com toda a angústia e sofrimento,
A decoração prostrada e luxuriosa que te consome de inveja e possessão.

E mais que tudo, o delírio desvairantemente desvariado da curiosidade sufocante.
Escorres sedimentado para o abismo conforme a verdade se desintegra aos teus olhos e absolves-te no vazio.
No frio e escuro vazio necrófago.

Num fôlego, vês a carnivalesca versão do mundo:
O desfile das utopias canibais,
Os carros alegóricos a radiar a euforia cósmica,
E a forja das vaidades teatrais
Onde, lenta e dolorosamente, se derretem as máscaras e identidades.

O ar expirou, numa nuvem vaporizada e espiralesca,
dissipando-se no cosmos, tão disperso e acolhedor, o cosmos.
Espairas asas como a fénix e sobrevoas o abismo,
consagras-te sob a catarata do aço líquido
e projectas-te inconscientemente no infinito.

Numa acreção mórbida vês-te rodeado de toda a vermalhada podre.
Desintegras-te em matéria excreta e adubante e dissipas-te.
Dissipas-te num ciclo sumptuoso, tortuoso, e ironicamente voluptuoso do último fôlego
O do nada, tão profundo e absoluto, que de trevas te ilumina.
Do nada que te engole, na garganta funda e sórdida,
tão abismalmente asquerosa,
tão delirantemente esclarecida.
E que num vómito convulso de nojo te eterniza nessa eternidade inexistente

E de repente és a criança afortunada e ingénua outra vez,
a descer o escorrega vortiçal até ao nirvana.

És nada, não és, não foste.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Vive

Olhas para o alto, e esperas.
Esperas que a chuva te lave e te leve.
esperas que te lave as lágrimas
e que te limpe o suor.
Esperas que te enxague o sangue,
tão vivido e gasto,
o das tuas mãos e o dos outros.
Esperas que te levem e te arrastem
nas torrentes de lama e lixo,
que de tão sujas te lavam.

E rebolas,
gritas,
despes-te.
Gastas-te e esfolas-te
Exausta, deixas-te cair para os braços de ninguém.
E adormeces, a sorrir,
a sonhar com uma qualquer coisa
que nem é deste mundo
de tanto que te faz sorrir.
Estás quente, aconchegada,
não queres acordar,
não acordas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O queijo da serra é carnívoro e cheira mal da boca.

O queijo da serra é carnívoro e cheira mal da boca.
Ora bem, o que se sucede é que o leite da ovelha tem instinto e vontade própria, amamentar o borrego. Ora, o queijo, como é sabido, é a perversão do leite (resta dizer que o requeijão é uma espécie de exorcismo, daí que já venha tão mole e desfeito, é que isto de entrar demónio, sair demónio é um stress que dá cabo de qualquer um.) Por conseguinte, se o propósito do leite é dar vida ao borrego, o do queijo será tirar. Portantos, o queijo da serra mata a cria da ovelha e digere-o, o que lhe confere o aspecto tosco e amanteigado. Resta dizer que o "amanteigado" é nhanha.

"Crê que uma anarquia baseada na ética deontológica postulada por Kant seria uma utopia viável ou que para haver progresso é necessária implicitamente uma hierarquia e ordem?" "O queijo da serra come borregos e cabritos putrefactos, o que lhe confere a textura amanteigada que tanto apreciamos", isto era win over limiano, digo.

E assim se dá a explicar a razão pela qual as pessoas que gostam de borrego tendem a gostar de queijo da serra. (Qual razões sócio-culturais relacionadas com a pastorícia do gado bovino...)

domingo, 17 de janeiro de 2010

V - A Queda

Lúcifer, o mais belo e perfeito dos anjos. Iludido pela sua perfeição, rebelou-se e quis usurpar o trono de Deus. Fui expulso e exilado por se recusar a servir a Deus e consequentemente à sua criação, o homem. Caiu. E com ele as suas hostes corrompidas de orgulho e pecado. Ele era a luz e essa luz fora levada para o submundo.
Arfava, cansado. O ar frio, a neve e a sombra da floresta agonizavam-lhe a respiração. Não obstante, regozijava. Conseguia ver o enorme sol a amanhecer diante dele e a alumiar todas as terras das gentes pequenas. Dava-se feliz por estar circundado daquelas montanhas arrepiantes, pareciam proteger aquela gente inocente de todo o mundo à volta. Aquele mundo do qual apenas tinham uma vaga ideia muito aconchegada à das histórias adulteradas dos mercadores que lá passavam. Diziam que havia um homem, um rei, um déspota, que queria unificar todo o mundo num só reino. Ao que parece, aquilo que começara como uma utopia de um homem esclarecido e sábio, estava a tornar-se numa carnificina global.
Por onde passava trazia choro, sangue e putrefacção. Violavam, pilhavam, saqueavam, matavam, e regozijavam-se naquele banho de sangue. A cor vermelha e o gritos de horror pareciam despertar todo o ódio e loucura nos soldados. Tornaram-se criaturas sedentas de sangue, que não podiam largar o vício. Para as jornadas mais longas, quando a sede da batalha começa a secar, levavam prisioneiros, para os poderem mutilar e chacinar num acto masturbatório.
As hostes moviam-se sob quatro estandartes: Um, o da cavalaria regia-se pela máxima "veni, vidi, vici", bem visível num pano branco que ondulava orgulhosamente no vento. Outro, o da infantaria pesada, espadachins experientes, besteiros e outros que tais, regia-se por um estandarte vermelho com duas espadas curzadas. Dizia-se que nas suas veias corria sangue de espartanos. O terceiro, trazia com ele a peste. Pouco sabiam de guerra e de armas aqueles covardes, mas queimavam, violavam e destruiam tudo quanto viam, não conquistavam, mas espalhavam o desespero e a discórdia. E havia o quarto e último. Todos pareciam temer perante ele. Não trazia um estandarte, apenas um tridente com três cabeças putrefactas espetadas. Aquele exército fedia a morte, eram criaturas que já tinham esquecido o que era viver. Matavam maquinalmente e espalhavam o terror. Não tinham nome nem história. Nunca existiram nem nunca hão de existir, eram simplesmente, a morte.
No dia seguinte, o sol surgiu vermelho, por detrás da montanha. As hostes haviam chegado àquele lugar remoto. O que era verde secou, os rios cristalinos ficaram vermelhos. A neve derreteu coberta pelo fumo. Os homens daquela harmoniosa terra, no desespero e no terror, pareceram ter perdido a alma e o discernimento. Matavam-se por fatias de pão, possuiam as mulheres uns dos outros, e parecia haver um novo chefe a cada 5 minutos tal era o desejo de poder e a presunção.
O Homem quis ser Deus, e possuir-se a si mesmo. Perdeu a alma e a essência. O homem é pequeno e deve resignar-se. O desejo de não desejar por tudo possuir é pecaminoso Ame-se, viva-se, libertem-se aos prazeres da carne e do sangue. Aquilo que nos alumia e faz viver, nada mais é senão a luz do desejo. O Homem que sonhe e que deseje, mas que não se torne mestre dos seus sonhos. Somos luz e escuridão. Aquele que ouse chegar à luz cega-se e fica para sempre preso na escuridão. Não há nada que nos corrompa, nem que acelere o nosso fim senão aquilo que está em nós. No entanto, enquanto não o conhecermos, poupamos essa agonia e continuamos a temer aquilo que não existe. Perder o medo é morrer, morrer é ter medo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O pêndulo e o croquete

O croquete estava na ponta do pêndulo. E balançava. E o cão saltava, mas não o apanhava. O croquete estava aborrecido, de um lado para o outro, a deixar migalhas de pão ralado numa espécie de nuvem electrónica mal amanhada. E a carne esfriava, e o arroz esfriava.

E ei-lo que surge! O douradinho, trazendo a luz e a confusão, o pânico e a idolateração. O supremo pescada. E no entanto, trazendo tanto brilho e admiração, apenas passa fugaz e fumegante, para um outro prato qualquer de arroz de tomate sedento.

Couves, terrábias, salada, nada o salva o croquete era seco e frígido. Carne gasta e moída.

Mandou vir a sobremesa.
Era mousse de ananás, de ananás.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Manifesto Anti-anti-social

Os anti-sociais, são pessoas más, e pouco escrupulosas,
Porque cascam numa sociedade que está podre.
Às coisas podres, põem-se flores e rezam-se missas,
ou pelo menos, tem-se pena.

E que raio tendes vós contra a podridão,
cheira mal?
é esquisita?
tem nhanhaa?

Quão santos e sacros sois vós afinal?
Nada vos motiva senão o ódio e a ganância,
Odeiam-nos e querem ser como eles.
Querem tanto a carne e o sangue como eles.
Oh, querem tanta carne.
Se pudessem, chacinavam-nos a todos e montavam um talho
Mas depois, a carne está podre, quem a ia querer?
E depois deprimiam, os coitados,
precisam de se integrar na sua desintegração,
mariquice, é o que é.

E agora, morremos todos, querem ver?
Uuuh, Julgamento final...
Não era isso que queriam?
Vá, façam lá esses sorrisinhos malandros e caras de "I told you".
Que interessa?
Também vão arder!
Ha-Ha!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Le morts de Notre Dame de Paris

A monotonia dança, envergonhada e macambúzia, tomada pelo braço embrutecido dum qualquer maestro mascarado, enquanto ele agita, de igual monótono modo, a sua batuta, regendo uma orquestra de sofredores esquizofrénicos, violadores masoquistas e inquisidores apicultores. Entoam, muito sincromáticamente, uma ode a tudo de que lhe foi tirado. A morte, a vida e a confotável consciência. Tiveram pátria e família, apegaram-se ao mundo, e subitamente, tudo lhes tinha sido aspirado, estavam nus, doentes, e dementes.
Gritaram e gritaram, até que esses gritos ecoassem algo que os apaziguasse. Depois choraram, e esperaram que das lágrimas se fizesse um rio que desaguasse num qualquer mar de nostalgia melancólica. Deixaram-se levar pelos delírios, até que se encontraram, ali, naquele antro magestoso, aterrorizante, frio e escuro. A acústica fazia parecer o simples cair de uma pinga uma tempestade, e o vento que esbatia uma voz de um qualquer Deus ancestral.
Ali, só encontraram mais terror. Os gritos e prantos angustiosos só lhes esvaziavam a alma e o silêncio cavernoso parecia devorar tudo o que de humanos lhes restava. E subitamente, com o cair de uma pedra, gritaram todo o que lhes saía, e desses gritos saíram cantos, de um coro enraivecido e sobrenaturalmente assustador. Reminescia, em quem ouvia, tudo o que de mais podre e vil existe: o ódio, a carnalidade, o medo. Dizia-se que quem entrava na sua catedral enlouquecia, e se tornava um deles. Até as gárgulas pareciam entoar o canto macabro.
Escutava-se a morte à porta daquele edifício, era linda, a coisa mais bela e majestosa, nela ardia o desejo e a negação, o prazer e a angústia, dor e mais dor e mais dor, o terror gelado, e por fim, a vida. Tornaram-se transcendentes à sua consciência.
Mortos, prepetuaram a sua morte naquela sinfonia.
Eu tenho de cair para me levantar, e tenho de estar de pé para cair. Quer rasteje quer ande a vida toda a pé, vai dar ao mesmo, nunca soube realmente o que era levantar-me ou o que era cair.

Agora já quero asas.