sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Le morts de Notre Dame de Paris

A monotonia dança, envergonhada e macambúzia, tomada pelo braço embrutecido dum qualquer maestro mascarado, enquanto ele agita, de igual monótono modo, a sua batuta, regendo uma orquestra de sofredores esquizofrénicos, violadores masoquistas e inquisidores apicultores. Entoam, muito sincromáticamente, uma ode a tudo de que lhe foi tirado. A morte, a vida e a confotável consciência. Tiveram pátria e família, apegaram-se ao mundo, e subitamente, tudo lhes tinha sido aspirado, estavam nus, doentes, e dementes.
Gritaram e gritaram, até que esses gritos ecoassem algo que os apaziguasse. Depois choraram, e esperaram que das lágrimas se fizesse um rio que desaguasse num qualquer mar de nostalgia melancólica. Deixaram-se levar pelos delírios, até que se encontraram, ali, naquele antro magestoso, aterrorizante, frio e escuro. A acústica fazia parecer o simples cair de uma pinga uma tempestade, e o vento que esbatia uma voz de um qualquer Deus ancestral.
Ali, só encontraram mais terror. Os gritos e prantos angustiosos só lhes esvaziavam a alma e o silêncio cavernoso parecia devorar tudo o que de humanos lhes restava. E subitamente, com o cair de uma pedra, gritaram todo o que lhes saía, e desses gritos saíram cantos, de um coro enraivecido e sobrenaturalmente assustador. Reminescia, em quem ouvia, tudo o que de mais podre e vil existe: o ódio, a carnalidade, o medo. Dizia-se que quem entrava na sua catedral enlouquecia, e se tornava um deles. Até as gárgulas pareciam entoar o canto macabro.
Escutava-se a morte à porta daquele edifício, era linda, a coisa mais bela e majestosa, nela ardia o desejo e a negação, o prazer e a angústia, dor e mais dor e mais dor, o terror gelado, e por fim, a vida. Tornaram-se transcendentes à sua consciência.
Mortos, prepetuaram a sua morte naquela sinfonia.

2 comentários:

Gabriela Lacerda disse...

até me vim, mas com medo ;)
beijinhos

Ana Luísa Pereira disse...

O Homem tortura-se. E gosta disso, brilhante modo de o demonstrares.