sexta-feira, 9 de abril de 2010

Shining

Um brilho qualquer, pálido e insípido, ilumina o teu corpo, igualmente pálido e insípido, escultural, jazido num fluir majestoso de sangue. Penetras, incessantemente o peito, e nesse acto sórdido e mórbido de prazer vês na lâmina, esse espelho tão vertiginosamente agudo, a tua cara de sofrimento a culminar, com um som ou mero sopro onde se indistingue um gemido e um grito de horror, num orgasmo ou uma coisa qualquer indescritível, um momento de inconsciência e de revelação em que te fazem cócegas nos neurónios e confundem as sinapses até rebentares numa overdose electrostática que se propaga até às mais sombrias cavidades e ínfimos interstícios. E rodas e voltas a espetar a faca enquanto te corre consciência pelas veias dilaceradas, num acto contínuo e masturbatório até que tussas essanguetada o teu último fôlego. E é nesse momento que te perpetuas, nua e mórbida sob o frio esbafeado duma lâmpada intermitente, o ruído eléctrico e das traças frenziadas nunca te pareceu tão intenso, tão macabro e austero. E vês o sangue a escorrer como uma nascente e a brilhar num espelho vermelho e apaixonado da tua triste e sinuosa figura. Vês trepidamente os teus olhos a tremer, as lágrimas a escorrer diluindo-se no vermelho sem fim, sorris, as paredes negras do vazio abatem-se sobre ti, perdeste-te.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Odeio-te por veres o mesmo mundo que eu e estares apaixonada por ele.
Odeio-te por no silêncio dizeres mais de ti que sabes,
Odeio-te por veres mais a nascer que a morrer,
Odeio-te por que és feliz e me alumias a alma, tão suja que só a tua luz o mostra.
Odeio-te porque não existes mais que aqui
Odeio-me porque te odeio
Odeio-te porque te amo,
Odeio-me por não poder.