A Inércia é uma coisa muito confortável. Estar quietinho, a pasmar, totalmente abstraído... Vive-se tanto parado e inútil. Varre-se-nos tudo o que vem dos sentidos, damos por nós perdidos em devaneios infantis, ali, sentados num canto. Encolhidos, como que para nos aquecermos, ou talvez numa recordação inconsciente de quando fomos fetos protegidos e frágeis no ventre materno. A melancolia apodera-se de um olhar esvaziado, vemo-nos a nós, confortavelmente sós, a sonhar de tudo menos de solidão. Palavras ternurentas, acolhedoras que nos são sopradas pelo vento, ou talvez apenas pela nossa mente histérica de uma alma desesperada. Somos tão crianças, naquela imaginação tão pura e singela, uma simplicidade de tal ordem que deve ser perfeita, ou pelo menos não se lhes vêem defeitos. Mas claro, um sonho não se quer imperfeito, qual seria o propósito de nos abstrairmos num universo tão reles como o real?
Queria voar... criar e recriar, mudar tudo à minha volta como quem muda um cenário e as personagens dum filme. Sim, queria que a minha vida fosse como esses filmes, uns lamechas, outros psicadélicos, outros de terror, comédias, e até daquele cinema independente pseudo-intelectual. Queria rebentar com isto tudo, com esta hipocrisia, falsidade, egoismo e imoralidade a que chamamos de "sociedade", com todos estes prédios copiosamente horrorosos, queria revirginizar a Terra para que depois a desposasse à minha vontade. Queria, aliás, quero, pura e simplesmente, viver. Não sei o que isso é, mas supõe-se que seja giro até.
Sem comentários:
Enviar um comentário