No princípio, a Terra estava coberta pelas trevas e era um ermo vazio, disforme e sem vida. Aos poucos a luz conquistou as trevas, e com ela veio a vida e toda a criação. O sol raiou para a vida. Do horizonte veio o conforto da luz e o falso firmamento entre terra e céu. Para uns este horizonte prolongava o vazio até à imensidão, para outros, punha fim ao mesmo vazio e limitava-nos a um universo caseiro e confortavelmente egocêntrico.
O homem era um bicho estúpido, amedrontado, como todos os animais, mas aquele macacão corcunda e peludo tinha algo mais, aquilo a que meia dúzia de gregos pomposos chamaram de racionalidade. Antropocentrismo. O bicharoco começou a achar-se digno de mais, a procurar mais, ir além do firmamento. Decidiu pois então que, em vez de se subjugar às leis da então tão harmoniosa natureza, devia ser ele a subjugar a natureza e toda a criação as seus pés. Começou a servir-se daquilo que estava à sua mercê: paus, ossos, calhaus, frutos, caça. Talvez tenha sido ousadia, talvez um lampejo de brilhantismo, talvez estivesse escrito, talvez tenha sido iluminação divina... mas o que é certo é que este Homem começou a ser Homem. O ser corcunda ergueu o queixo e venceu os medos. Apercebeu-se de que podia amedrontar outros. Apercebeu-se que tinha poder, e isso soube-lhe bem como o raio. E assim que terminou de subjugar a natureza, quando já tinha o seu império pronto a descolar, lembrou-se de começar a subjugar os seus. Começámos a andar à porrada, e descobrimos que isso servia para tudo. Começou o ciclo de ganância e auto-destruição da humanidade, ainda que numa fase primitiva. Mas também havia coisas boas, havia os marmanjos que não andavam à porrada e passavam o dia a olhar para o ar. Filósofos, cientistas, chamem-lhe o que quiserem, mas eram os que andavam sempre no firmamento, a mirar o horizonte e a querer engrandecer a espécie, afinal, conhecimento é poder, e poder é fixe. Mas, mais uma vez, temos tanto de egocêntricos como de auto-destrutivos, é uma faca de dois gumes. À medida que explorávamos o horizonte, este expandia-se ainda mais, quanto mais procuramos saber, mais nos apercebemos da nossa pequenez e ignorância. O vazio começou assim a atormentar-nos, ou pelo menos a atormentar meia dúzia de cabeças pensantes e sadísticas. Mas, no meio disto tudo, há e sempre houve as massas. Enormes grupos de indivíduos tão desprezíveis que insistimos em tratá-los como um só movimento fluído. Devíamos dar-lhes mais valor, um grupo de cabeças sintonizadas na mesma formatação também devia ser considerada uma maravilha da natureza. As massas são uma máquina de guerra cultural massissa. Com a devida formatação podem aniquilar uma cultura, uma raça, uma religião, sem que sintam remorsos ou a mínima percepção de consciência. E é assim que a humanidade se rege, pelo poder das massas, sobre as massas. A essência do humano está em subjugar o próximo, em matá-lo, em amá-lo.
"Every human being not going to the extreme limit is the servant or the enemy of man and the accomplice of a nameless obscenity" [2]
[1] Livro do Génesis
[2] in "A Chore for the Lost" by deathspell omega
O homem era um bicho estúpido, amedrontado, como todos os animais, mas aquele macacão corcunda e peludo tinha algo mais, aquilo a que meia dúzia de gregos pomposos chamaram de racionalidade. Antropocentrismo. O bicharoco começou a achar-se digno de mais, a procurar mais, ir além do firmamento. Decidiu pois então que, em vez de se subjugar às leis da então tão harmoniosa natureza, devia ser ele a subjugar a natureza e toda a criação as seus pés. Começou a servir-se daquilo que estava à sua mercê: paus, ossos, calhaus, frutos, caça. Talvez tenha sido ousadia, talvez um lampejo de brilhantismo, talvez estivesse escrito, talvez tenha sido iluminação divina... mas o que é certo é que este Homem começou a ser Homem. O ser corcunda ergueu o queixo e venceu os medos. Apercebeu-se de que podia amedrontar outros. Apercebeu-se que tinha poder, e isso soube-lhe bem como o raio. E assim que terminou de subjugar a natureza, quando já tinha o seu império pronto a descolar, lembrou-se de começar a subjugar os seus. Começámos a andar à porrada, e descobrimos que isso servia para tudo. Começou o ciclo de ganância e auto-destruição da humanidade, ainda que numa fase primitiva. Mas também havia coisas boas, havia os marmanjos que não andavam à porrada e passavam o dia a olhar para o ar. Filósofos, cientistas, chamem-lhe o que quiserem, mas eram os que andavam sempre no firmamento, a mirar o horizonte e a querer engrandecer a espécie, afinal, conhecimento é poder, e poder é fixe. Mas, mais uma vez, temos tanto de egocêntricos como de auto-destrutivos, é uma faca de dois gumes. À medida que explorávamos o horizonte, este expandia-se ainda mais, quanto mais procuramos saber, mais nos apercebemos da nossa pequenez e ignorância. O vazio começou assim a atormentar-nos, ou pelo menos a atormentar meia dúzia de cabeças pensantes e sadísticas. Mas, no meio disto tudo, há e sempre houve as massas. Enormes grupos de indivíduos tão desprezíveis que insistimos em tratá-los como um só movimento fluído. Devíamos dar-lhes mais valor, um grupo de cabeças sintonizadas na mesma formatação também devia ser considerada uma maravilha da natureza. As massas são uma máquina de guerra cultural massissa. Com a devida formatação podem aniquilar uma cultura, uma raça, uma religião, sem que sintam remorsos ou a mínima percepção de consciência. E é assim que a humanidade se rege, pelo poder das massas, sobre as massas. A essência do humano está em subjugar o próximo, em matá-lo, em amá-lo.
"Every human being not going to the extreme limit is the servant or the enemy of man and the accomplice of a nameless obscenity" [2]
[1] Livro do Génesis
[2] in "A Chore for the Lost" by deathspell omega
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