segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dead End

Caí. Não me levantei, rastejei até ao fundo do corredor. Lá, estava uma porta, velha e carunchosa, de uma madeira maciça e escura. Parecia dar para uma catacumba ou algo parecido, das bordas vinha um ar frio e fétido e a porta era baixa com uma janelinha gradeada. Tinha o trinco partido e a maçaneta pingada e escorregadia. Provavelmente alguém lá passara, não há muito tempo. Apoiado num braço, com uma dor latente no pulso que me parecia querer rasgar o braço ao meio, lá fiz por chegar à maçaneta e abri a porta. Empurrei-a num ranger tenebroso e vi umas escadas, em caracol, esguias e mal iluminadas. Arrastei-me de novo, com o peito comprimido contra o chão. As escadas eram de um calcário gasto e deslizante, provavelmente do uso e da água que lá passara. Empurrei-me com dor, o peito dorido dos solavancos no chão e os pulmões sofridos do ar húmido e gélido que se respirava.
Cheguei ao fim. Havia uma outra porta. Esta, ao contrário da anterior era toda pomposa e bem decorada, de talha dourada e maçaneta repleta de joalharia. Metade de ela era vidrada, de um vidro fumado espelhante e elegante, a outra, a metade de baixo, ostentava um belo brasão que parecia remontar talvez à mais alta aristocracia do século XV. Encontrei a maçaneta e rodei, nada aconteceu, estava trancada. Ali fiquei, sem força para voltar onde estava, sem vontade nem esperança de derrubar aquela barreira. Morri, apodreci, desapareci. A porta, essa, permaneceu fechada, quem sabe se algum dia esteve aberta...

2 comentários:

Beko the Great disse...

Ufa! Estava a ver que este blog nunca mais acabava!

Agora a sério... Que ácidos é que andas a tomar?

Ana Luísa Pereira disse...

E não me venhas cá falar das minhas descrições, quando me fazes deparar com uma coisa como esta, que até me faz doer o peito.