quarta-feira, 3 de junho de 2009

L'Amour, la mort...

A solidão invade a alma, solidão encava-se nas entranhas, come-nos as visceras, regurgita-as causando o desespero, a nossa mente quer parar, ignorar, no entanto a angústia que se sente lacinantemente a cada momento impede-nos de sermos racionais, somos agora animais de um instinto abissal procuramos o abismo, não para cair nele e desaparecer na vasta imensidão negra do desconhecido, mas para sentirmos a adrenalina de estar no limite, o desespero a corromper-nos, o medo a controlar cada músculo do nosso corpo até sucumbirmos, sentimos todos os desejos carnais, a sede, a fome, a necessidade de prazer, vemos tudo difuso, imagens de carnificina, imagens de desolação, orgias levianas e podres... Até que desfalecemos, o medo, a agústia, o desespero, venceram, aquela funesta jornada carnal acabou, o abismo caiu connosco e voltamos à estaca zero, deambulamos de novo à procura de uma saída, à procura de um escape a todo o sofrimento, e no entanto não nos apercebemos que é essa procura o sofrimento, essa sede de uma solução, esse desejo latinante para encontrar uma resposta, um final feliz, uma verdade reconfortante que nos afaste do abismo. É essa procura de uma saída do labirinto abissal que nos faz cair no abismo, devemos permanecer na nossa existência animal, carnal, irracional, procurar o prazer pelo que é, e assim não sofremos, não sentimos, simplesmente vivemos, sobrevivemos, a nossa missão fica cumprida, a de cumprir uma pena terrena do nascimento à morte, morte essa que é a saída final, não dá a resposta e no entanto cessa a procura, cessa tudo, a não-existência torna o mundo igualmente inexistente. E no entanto, queremos a imortalidade, queremos a eterna deambulação pelo mundo, sempre à beira do abismo, no desespero, simplesmente porque sabemos o que é este estado, terreno, e não sabemos nem nunca saberemos qual é o próximo, o que acontece, o que é morrer...

1 comentário:

Santyago disse...

Um bom texto para reflectir. Um texto que gostei imenso de ler. Extraordinário que passamos a vida à procura de algum conforto e com medo do desconhecido... não podias ter escolhido melhor tema.