Iam juntos, de mão dada, aéreos e compenetrados um no outro. Caminhavam junto a um bosque, rindo e corando como se nada mais houvesse senão a inocência e leviandade daquele momento, e gozavam de um pôr-do-sol que se espalhava pelas nuvens adentro. Um corvo passara a voar, prenunciando a noite, e pousara numa poça de água debicando e mirando-se no reflexo. Na inglória ave nada mais se via senão as asas da liberdade que ironicamente carregavam o fado. Chegaram a uma encruzilhada, o deleitoso pôr-do-sol tinha dado lugar ao tenebroso crepúsculo de sombras falsas e incompletas. Abraçaram-se, beijaram-se, e olharam-se. Olharam-se de tal desejo que pareciam querer, mais do que sucumbir ao desejo, eterniza-lo num qualquer sonho impossível e imortal.
- Não me deixes, por favor... - Dizia ela apertando as suas mãos fortes.
-Porquê?
-Porque sim... tenho medo.
-Medo? porque hás de ter medo?
-Oh, não me olhes assim... porque sim, pronto.
-Anda lá, fala comigo...
-Tenho medo de ficar sozinha...
-Sozinha? não vais ficar sozinha, eu volto, como sempre volto, nunca te deixo, nunca!
-Não é isso... tenho medo de estar sozinha, tenho medo de estar comigo...
-Hum?
-Tenho medo do que me possa fazer, de acordar de tudo isto...
-Acordar de quê? isto é real.
-Mas não parece, é tudo demasiado simples, demasiado perfeito para ser real. Não estou habituada assim a estar feliz, assim leve, sei lá... não acho que seja suposto, e tenho medo de me aperceber disso. Sozinha, no escuro.
-Oh, isso são só inseguranças, vais ver que passa.-Porquê?
-Porque sim... tenho medo.
-Medo? porque hás de ter medo?
-Oh, não me olhes assim... porque sim, pronto.
-Anda lá, fala comigo...
-Tenho medo de ficar sozinha...
-Sozinha? não vais ficar sozinha, eu volto, como sempre volto, nunca te deixo, nunca!
-Não é isso... tenho medo de estar sozinha, tenho medo de estar comigo...
-Hum?
-Tenho medo do que me possa fazer, de acordar de tudo isto...
-Acordar de quê? isto é real.
-Mas não parece, é tudo demasiado simples, demasiado perfeito para ser real. Não estou habituada assim a estar feliz, assim leve, sei lá... não acho que seja suposto, e tenho medo de me aperceber disso. Sozinha, no escuro.
-Ohh... sei lá.
-Olha para mim, vais ficar bem.
E com um beijo na testa, ele despediu-se dela. Conforme ela atravessava um camião passara, dilacerando-a no pára-choques. Ele olhou para trás, e petrificou, mortificado, prostrado no chão. Um corvo voava nos céus, e colhera a sua alma. Levara-a para a luz que restava do crepúsculo, para o horizonte. E ele ali ficara, na escuridão, perdido, amedrontado, acorrentado à saudade, amorfo. Percebera o medo dela. Não o de ficar sem companhia, mas o de ficar consigo. As trevas tomaram conta dele, apagara-se na sombra...
(Para a Fábrica de Letras, "Preto & Branco")
(Para a Fábrica de Letras, "Preto & Branco")
3 comentários:
Demasiado duro, tão duro como a realidade a que todos estamos sujeitos.
Dasss... não estava nada à espera desse desfecho. Até fiquei a bater mal. :s
Mas pronto... acabaram-se as dúvidas, medos e inseguranças. =p
*
Olha, Miguel, a vida é bonita, mas também é merdosa.
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