quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O queijo da serra é carnívoro e cheira mal da boca.

O queijo da serra é carnívoro e cheira mal da boca.
Ora bem, o que se sucede é que o leite da ovelha tem instinto e vontade própria, amamentar o borrego. Ora, o queijo, como é sabido, é a perversão do leite (resta dizer que o requeijão é uma espécie de exorcismo, daí que já venha tão mole e desfeito, é que isto de entrar demónio, sair demónio é um stress que dá cabo de qualquer um.) Por conseguinte, se o propósito do leite é dar vida ao borrego, o do queijo será tirar. Portantos, o queijo da serra mata a cria da ovelha e digere-o, o que lhe confere o aspecto tosco e amanteigado. Resta dizer que o "amanteigado" é nhanha.

"Crê que uma anarquia baseada na ética deontológica postulada por Kant seria uma utopia viável ou que para haver progresso é necessária implicitamente uma hierarquia e ordem?" "O queijo da serra come borregos e cabritos putrefactos, o que lhe confere a textura amanteigada que tanto apreciamos", isto era win over limiano, digo.

E assim se dá a explicar a razão pela qual as pessoas que gostam de borrego tendem a gostar de queijo da serra. (Qual razões sócio-culturais relacionadas com a pastorícia do gado bovino...)

domingo, 17 de janeiro de 2010

V - A Queda

Lúcifer, o mais belo e perfeito dos anjos. Iludido pela sua perfeição, rebelou-se e quis usurpar o trono de Deus. Fui expulso e exilado por se recusar a servir a Deus e consequentemente à sua criação, o homem. Caiu. E com ele as suas hostes corrompidas de orgulho e pecado. Ele era a luz e essa luz fora levada para o submundo.
Arfava, cansado. O ar frio, a neve e a sombra da floresta agonizavam-lhe a respiração. Não obstante, regozijava. Conseguia ver o enorme sol a amanhecer diante dele e a alumiar todas as terras das gentes pequenas. Dava-se feliz por estar circundado daquelas montanhas arrepiantes, pareciam proteger aquela gente inocente de todo o mundo à volta. Aquele mundo do qual apenas tinham uma vaga ideia muito aconchegada à das histórias adulteradas dos mercadores que lá passavam. Diziam que havia um homem, um rei, um déspota, que queria unificar todo o mundo num só reino. Ao que parece, aquilo que começara como uma utopia de um homem esclarecido e sábio, estava a tornar-se numa carnificina global.
Por onde passava trazia choro, sangue e putrefacção. Violavam, pilhavam, saqueavam, matavam, e regozijavam-se naquele banho de sangue. A cor vermelha e o gritos de horror pareciam despertar todo o ódio e loucura nos soldados. Tornaram-se criaturas sedentas de sangue, que não podiam largar o vício. Para as jornadas mais longas, quando a sede da batalha começa a secar, levavam prisioneiros, para os poderem mutilar e chacinar num acto masturbatório.
As hostes moviam-se sob quatro estandartes: Um, o da cavalaria regia-se pela máxima "veni, vidi, vici", bem visível num pano branco que ondulava orgulhosamente no vento. Outro, o da infantaria pesada, espadachins experientes, besteiros e outros que tais, regia-se por um estandarte vermelho com duas espadas curzadas. Dizia-se que nas suas veias corria sangue de espartanos. O terceiro, trazia com ele a peste. Pouco sabiam de guerra e de armas aqueles covardes, mas queimavam, violavam e destruiam tudo quanto viam, não conquistavam, mas espalhavam o desespero e a discórdia. E havia o quarto e último. Todos pareciam temer perante ele. Não trazia um estandarte, apenas um tridente com três cabeças putrefactas espetadas. Aquele exército fedia a morte, eram criaturas que já tinham esquecido o que era viver. Matavam maquinalmente e espalhavam o terror. Não tinham nome nem história. Nunca existiram nem nunca hão de existir, eram simplesmente, a morte.
No dia seguinte, o sol surgiu vermelho, por detrás da montanha. As hostes haviam chegado àquele lugar remoto. O que era verde secou, os rios cristalinos ficaram vermelhos. A neve derreteu coberta pelo fumo. Os homens daquela harmoniosa terra, no desespero e no terror, pareceram ter perdido a alma e o discernimento. Matavam-se por fatias de pão, possuiam as mulheres uns dos outros, e parecia haver um novo chefe a cada 5 minutos tal era o desejo de poder e a presunção.
O Homem quis ser Deus, e possuir-se a si mesmo. Perdeu a alma e a essência. O homem é pequeno e deve resignar-se. O desejo de não desejar por tudo possuir é pecaminoso Ame-se, viva-se, libertem-se aos prazeres da carne e do sangue. Aquilo que nos alumia e faz viver, nada mais é senão a luz do desejo. O Homem que sonhe e que deseje, mas que não se torne mestre dos seus sonhos. Somos luz e escuridão. Aquele que ouse chegar à luz cega-se e fica para sempre preso na escuridão. Não há nada que nos corrompa, nem que acelere o nosso fim senão aquilo que está em nós. No entanto, enquanto não o conhecermos, poupamos essa agonia e continuamos a temer aquilo que não existe. Perder o medo é morrer, morrer é ter medo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O pêndulo e o croquete

O croquete estava na ponta do pêndulo. E balançava. E o cão saltava, mas não o apanhava. O croquete estava aborrecido, de um lado para o outro, a deixar migalhas de pão ralado numa espécie de nuvem electrónica mal amanhada. E a carne esfriava, e o arroz esfriava.

E ei-lo que surge! O douradinho, trazendo a luz e a confusão, o pânico e a idolateração. O supremo pescada. E no entanto, trazendo tanto brilho e admiração, apenas passa fugaz e fumegante, para um outro prato qualquer de arroz de tomate sedento.

Couves, terrábias, salada, nada o salva o croquete era seco e frígido. Carne gasta e moída.

Mandou vir a sobremesa.
Era mousse de ananás, de ananás.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Manifesto Anti-anti-social

Os anti-sociais, são pessoas más, e pouco escrupulosas,
Porque cascam numa sociedade que está podre.
Às coisas podres, põem-se flores e rezam-se missas,
ou pelo menos, tem-se pena.

E que raio tendes vós contra a podridão,
cheira mal?
é esquisita?
tem nhanhaa?

Quão santos e sacros sois vós afinal?
Nada vos motiva senão o ódio e a ganância,
Odeiam-nos e querem ser como eles.
Querem tanto a carne e o sangue como eles.
Oh, querem tanta carne.
Se pudessem, chacinavam-nos a todos e montavam um talho
Mas depois, a carne está podre, quem a ia querer?
E depois deprimiam, os coitados,
precisam de se integrar na sua desintegração,
mariquice, é o que é.

E agora, morremos todos, querem ver?
Uuuh, Julgamento final...
Não era isso que queriam?
Vá, façam lá esses sorrisinhos malandros e caras de "I told you".
Que interessa?
Também vão arder!
Ha-Ha!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Le morts de Notre Dame de Paris

A monotonia dança, envergonhada e macambúzia, tomada pelo braço embrutecido dum qualquer maestro mascarado, enquanto ele agita, de igual monótono modo, a sua batuta, regendo uma orquestra de sofredores esquizofrénicos, violadores masoquistas e inquisidores apicultores. Entoam, muito sincromáticamente, uma ode a tudo de que lhe foi tirado. A morte, a vida e a confotável consciência. Tiveram pátria e família, apegaram-se ao mundo, e subitamente, tudo lhes tinha sido aspirado, estavam nus, doentes, e dementes.
Gritaram e gritaram, até que esses gritos ecoassem algo que os apaziguasse. Depois choraram, e esperaram que das lágrimas se fizesse um rio que desaguasse num qualquer mar de nostalgia melancólica. Deixaram-se levar pelos delírios, até que se encontraram, ali, naquele antro magestoso, aterrorizante, frio e escuro. A acústica fazia parecer o simples cair de uma pinga uma tempestade, e o vento que esbatia uma voz de um qualquer Deus ancestral.
Ali, só encontraram mais terror. Os gritos e prantos angustiosos só lhes esvaziavam a alma e o silêncio cavernoso parecia devorar tudo o que de humanos lhes restava. E subitamente, com o cair de uma pedra, gritaram todo o que lhes saía, e desses gritos saíram cantos, de um coro enraivecido e sobrenaturalmente assustador. Reminescia, em quem ouvia, tudo o que de mais podre e vil existe: o ódio, a carnalidade, o medo. Dizia-se que quem entrava na sua catedral enlouquecia, e se tornava um deles. Até as gárgulas pareciam entoar o canto macabro.
Escutava-se a morte à porta daquele edifício, era linda, a coisa mais bela e majestosa, nela ardia o desejo e a negação, o prazer e a angústia, dor e mais dor e mais dor, o terror gelado, e por fim, a vida. Tornaram-se transcendentes à sua consciência.
Mortos, prepetuaram a sua morte naquela sinfonia.
Eu tenho de cair para me levantar, e tenho de estar de pé para cair. Quer rasteje quer ande a vida toda a pé, vai dar ao mesmo, nunca soube realmente o que era levantar-me ou o que era cair.

Agora já quero asas.