terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Æ

O ruído é insuportável, como se de uma tromba de trompas se tratasse, a cavalgar e a jorrer pela chuva concêntrica e congénita de um abismo que nada tem de comum com a essência de um, apenas com a sua existência. O ruído mais cru, de uma crueza absurda e absorta, mais puro e mais feio. As vozes não falam, não cantam, não berram, arrastam-se mudas. Uma mudez ensurdecedora vinda algures do pré-câmbrico da garganta, e finda no nascimento da estética.
Deus era lá.
A essência, despojada de existência e ventre hermético da estética, era lá.
Estava atada. Pelos pés, pelos braços, pela cabeça, e pelos tentáculos, que não possuía, mas que se lhe adivinhavam pela tamanha monstruosidade que se lhe drenava das vísceras, com as vísceras, nas vísceras.
No nascimento do ser, violência. Não agressividade nem golpeamento de coisa alguma, apenas violência. A violência primordial, o impulso monolítico carnivalesco dos agentes da essência, das máscaras sem fantasma, fantasma sem corpo e corpo sem existência. Devoraram, criaram, drenaram.
Amorais, atemporais, aespaciais.
Ela nasceu, larva cósmica e vortiçal. Cresceram-lhe dentes, e mais dentes, apenas dentes, um verme com dentes, que devorava, sugava, anihilava. Anihilou Deus e Deus era com ela, digeriu Deus e Deus não era mais.
Ficou bela, voluptuosa e carnal.

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