terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Æ

O ruído é insuportável, como se de uma tromba de trompas se tratasse, a cavalgar e a jorrer pela chuva concêntrica e congénita de um abismo que nada tem de comum com a essência de um, apenas com a sua existência. O ruído mais cru, de uma crueza absurda e absorta, mais puro e mais feio. As vozes não falam, não cantam, não berram, arrastam-se mudas. Uma mudez ensurdecedora vinda algures do pré-câmbrico da garganta, e finda no nascimento da estética.
Deus era lá.
A essência, despojada de existência e ventre hermético da estética, era lá.
Estava atada. Pelos pés, pelos braços, pela cabeça, e pelos tentáculos, que não possuía, mas que se lhe adivinhavam pela tamanha monstruosidade que se lhe drenava das vísceras, com as vísceras, nas vísceras.
No nascimento do ser, violência. Não agressividade nem golpeamento de coisa alguma, apenas violência. A violência primordial, o impulso monolítico carnivalesco dos agentes da essência, das máscaras sem fantasma, fantasma sem corpo e corpo sem existência. Devoraram, criaram, drenaram.
Amorais, atemporais, aespaciais.
Ela nasceu, larva cósmica e vortiçal. Cresceram-lhe dentes, e mais dentes, apenas dentes, um verme com dentes, que devorava, sugava, anihilava. Anihilou Deus e Deus era com ela, digeriu Deus e Deus não era mais.
Ficou bela, voluptuosa e carnal.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

consumíveis.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

"As High As The Highest Heavens And From The Center To The Circumference Of The Earth"*

Porquê os círculos infinitos concêntricos no cerne psicológico de um? Porque é que um afasta e repele outros e estabelece distâncias invisíveis com eles? Porque não há um de interagir com o próximo como sendo efectivamente próximo? Tudo isto é fugaz e efémero e tem um tanto ou quanto de ridículo e parvo. As almas querem almas, querem-se a elas, querem insistentemente e fogosamente rever-se no outro para que a sua estadia tão transitória se amaine e parece ter sentido.

E eu que me vejo em ti, e nele e nela, e sei que vos desejo, e que me desejam, e que nos revemos e que nos ligamos, porque me hei de prender a um círculo que vos repele, e fechar-me numa bolha de misantropia? Porque hei de eternamente deambular entre olhares mais longos do que o suposto e permanecer inerte? Se preciso de ti, e dos outros e de calor.

Se sei que vos hei de repelir mais tarde e consumir como um combustível que arde, pois tudo é fugaz e efémero, e a necessidade implícita do outro implica a sua perda e rejeição. Não serei sozinho, nem serei eterno, nem vós, amigos, conhecidos, desconhecidos e demais. Que o mundo gire sem mim e sem vós, e permanecerei como os astros, frios e longíquos, circunscrito aos meus eixos. E que a mecânica do tempo me afaste e aproxime de voz, sem excentricidades na órbita.



 *Título do album de true widow, e em cima está a capa.

sábado, 26 de março de 2011

A

E subitamente ela está ali, especada na minha mente a tentar ler um grande vazio de pó e teias que se acumulou. Correm e acudem depressa, atropelando-se e cavalgando-se, torrentes de palavras de amor e ódio e introspecção e tudo o que o caiba no desespero da aprovação, para que ela espeque apenas mais um momento, para que se congele esse fragmento de tempo em que ela se encontra especada na minha mente. É uma musa acidental, que veio aqui desflorar por caminhos sinuosos que o destino ou os milhões de acasos quiseram traçar, só para especar na minha mente, e me ler, no cru e no puro, sem as interferências ludibriosas que a boca profere.
E se a fonte era cíclica e avassaladora, já não o é. Acumulou lixos. Dessas interferências ruidosas que se espalham como pragas para distrair o intelecto. Entopiu, cessou, não encontrou por onde desviar, mais por cansaço do que por falta de via. E afinal, escrevia para ela, vejo isso agora. Escrevia para mim e ela estava em mim, por me ler. E por ela estar ali, atenta e sôfrega for mais palavras, num consumo vicioso e canibalesco de intelectos e pedaços de carne podre emaranhados, a corrente tornou-se de novo triunfante e cavalgante, irrompe agora pela estática tortuosa que me envolvia num antro de procrastinação.
Obrigado.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Já era altura de aparar o blogue e começar a escrever no bigode.